terça-feira, 20 de novembro de 2012

Elisa



ATENÇÃO: este é um relato pessoal.  Se você não gosta da minha pessoa, é melhor voltar para o site da Capricho. Pensa que eu não sei? Hum...

Eu tinha 4 ou 5 anos quando comecei a falar dela. Minha vó estava lavando roupa ou algo do tipo, e eu, cansada de ficar sentada vendo tevê ou “pular” (esse é o apelido fofo que davam à minha estranha mania de pegar um graveto ou uma escumadeira e fazer de microfone, enquanto em pulava para um lado e para o outro), decidi puxar assunto. Falei de uma amiga que me visitava toda noite, bem mais velha que eu e cheia de história para contar. Com 4 anos, eu contava todos os problemas pessoais de uma garota de 19 que ajudava os pais a administrar uma pizzaria além de N compromissos e agitações. Você deve pensar: “nossa, que prodígio”. Eu penso: “o que deu em mim?”.
Durante toda a minha infância, acreditei que Elisa era tão imaginária que ninguém mais podia conceber sua real existência. Às vezes me sentia culpada, “estou mentido para meus pais e minha família sobre alguém que não existe”, sendo que, no fundo, no fundo, não era mentira. Eu não via Elisa – devo ter visto em algum sonho ou imaginação forçada, mas nunca passou disso. Ela nunca abriu a porta do meu quarto e sentou comigo no chão para falar sobre a vida e sobre Cinco Amores, sua suntuosa cidade natal. Era isso que eu dizia a todos – aliás, isso fez com que, até hoje, meus tios ou primos me perguntem: “E a Elisa?”. Mas tem horas que a imaginação ultrapassa todas as barreiras e acaba se tornando real. Não, não estou falando daquela velha teoria de que acabamos acreditando na própria mentira – pensar na Elisa como uma mentira chega a ser uma ofensa.
Podem me chamar de louca, eu sei que esse é um dos poucos adjetivos que cabem na minha real definição. Mas a história de Elisa, por mais que pareça uma loucura, é de longe a mais pura realidade que já vivi – mesmo num tempo de total imaturidade, se hoje tenho noção das minhas responsabilidades e compreendo o mundo e seus habitantes mais loucos que eu, devo isso a esta garota, minha melhor amiga. Aliás, acho “melhor amiga” um termo um pouco clichê; talvez Elisa fosse minha companheira de sonho ou de realidade, ou talvez a prova viva de que a imaginação não é apenas algo que fica do lado de dentro. Hoje em dia, luto para ser igual a ela – não com os mesmos problemas, mas com a mesa garra e as mesmas manias.
Um lado meu metido a psicólogo diz que Elisa podia ser, na verdade, uma segunda personalidade minha, mas procuro dispensar essa ideia – afinal, seria muita vaidade de minha parte. Por que estou falando dessa parte tão confusa e um pouco paranormal da minha vida? Em primeiro lugar, eu dizia que Elisa fazia aniversário no dia 19 de novembro. Em segundo, acho importante dividir com o mundo a importância dessa espécie de realidade vestida de fábula. Em terceiro... Ah, vamos parar no segundo item, por favor.
Já pensei em escrever um livro com o pouco que me lembro dela. Ora, eu desenhava seu rosto, dizia a cor de seus cabelos, o nome dos seus parentes... Hoje em dia, lembro-me apenas do que eu dizia que sempre conversávamos – as preocupações, os sonhos, as tolices de meninas, a vontade de crescer ou ficar parada por alguns segundos... Pelas minhas contas (baseadas em uma matemática horrenda, diga-se de passagem), Elisa teria trinta anos. Se ela quiser voltar para me dar umas dicas de como me portar na fase adulta, serei eternamente grata.
Se um dia você teve um amigo imaginário (não gosto muito de usar esse termo, mas preciso queimar esse preconceito dentro de mim), pense nele, reze por ele ou simplesmente tente se lembrar de como era a relação de vocês. Porque toda felicidade ou realização pessoal é movida por válvulas de escape. 
 (Imagem: Tumblr)














(Ouça Something's missing - John Mayer)

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