Nova MPB - entrevista com Jay Vaquer

Gente, esse blog tá realmente com tudo. Depois de entrevistar a minha QUERIDA Manu Santos, tenho a honra de mostrar um papo interessantíssimo com um cantor genial. Dono de letras intensas, puras e sofisticadas, tenho a honra de mostrar a nova cara do Rock brasileiro: JAY VAQUER! Confiram e descodifiquem-se.






1) Para começar, qual é o maior desafio para quem está ingressando nessa carreira?


Sobreviver. (Persistir, insistir, acreditar, perdurar, não sucumbir, não enlouquecer, não mandar tudo pra PQP). É o maior desafio. É preciso amar a carreira, saber que não há o glamour que os mais ingênuos imaginam existir... Existe muita ralação, um trabalho árduo, complicado, injusto, sacana.. com um sistema podre, nefasto, uma indústria covarde, confusa e impaciente, com gente canalha, gente interesseira, gente falsa...Gente safada que se aproveita de seu trabalho ( que é a sua própria vida ) em determinado momento por vislumbrar uma chance de faturar um cascalho qualquer..e se você não fica esperto, descarta no minuto seguinte, feito bagaço de laranja. Perdem e ganham fichas como se estivessem jogando poker, apostando irresponsavelmente com a vida alheia...Cada ficha é uma vida repleta de desejos, sonhos. Inevitável pagar micos, engolir sapos, aturar ignorâncias variadas, preconceitos, maldades, fofocas, enrolações, falsas promessas.... Lidar com jornalistas -muitas vezes- despreparados,desinteressados, maldosos, tendenciosos.. Produtores /empresários porcos, mentirosos, insensíveis, relapsos, gananciosos e ignorantes... E por aí vai... (risos). Sobreviver... Tal qual a tartaruguinha que acaba de nascer e caminha rumo ao mar , indefesa, mas tentando evitar predadores. Sobreviver... Munido de uma espingarda de chumbinho numa guerra nuclear.


2) Nessa nova geração, ainda fica evidente a participação de grandes cantores como Caetano Veloso e Gilberto Gil, e no rock a presença de "feras" como Renato Russo e Cazuza ainda é intensa. Percebe-se que nas suas canções existe muita influência das letras desses dois últimos poetas, só que de uma forma mais atual, moderna. Você se inspira nesses cantores para compor suas canções? Como esses mestres da MPB te incentivam?


Consumi, consumo e admiro muitos todos os nomes que você citou. Essa admiração se reflete positivamente no resultado do que faço de forma espontânea, involuntária. São artistas que estabelecem um padrão, um patamar. ( profundidade, sensibilidade, riqueza poética, harmônica e melódica). O trabalho deles me incentiva com certeza.. Me estimula.. Busco melhorar sempre. Realizar trabalhos bonitos... Que mereçam coexistir dignamente com o universo que eles estabeleceram brilhantemente.


3) Na sua opinião, a música popular brasileira dos dias de hoje tornou-se algo comercial e relacionado à auto-promoção ou ainda preza pela qualidade e pelo bom gosto?


Também existe o comercial com muita qualidade... Maria Gadú é um bom exemplo disso. Tem de tudo nessa “música popular brasileira dos dias de hoje”. E as fronteiras dos gêneros são cada vez mais tênues, imprecisas. Há desde a porcaria mais hedionda até obras primorosas que alguns colegas apresentam.


4) A Internet é o símbolo da divulgação de novos cantores e estilos em todo o mundo. Você acha que a Internet pode realmente te ajudar ou te atrapalhar?


Me ajuda bastante.Tem sido fundamental. Não fosse a Internet, estariam me procurando nos obituários dos jornais.


5) Como você define o momento musical que vivemos?


Plural, diversificado, criativo... Rico... No meio de muita merda, é possível garimpar muita coisa sensacional.. Democratização tecnológica real e total!e que bom... Qual músico não tem um “estúdio caseiro” no computador? Só se não quiser... Com um investimento pequeno, você já tem condições de gravar razoavelmente seu material. Mas é claro que a quantidade avassaladora de produção é estrangulada na hora da divulgação.. ( muita água para pouca torneira! ) Na hora do “Ouçam! Conheçam! Vejam!”, complica... e o que “salta” e sobrevive não está atrelado necessariamente ao critério subjetivo do merecimento..seja pelo tempo, esforço, dedicação, empenho, honestidade, amor, originalidade, identidade, ousadia ou qualidade. Modismos ( conveniência/tendências...adequação do produto ao mercado vigente-mutante) , a sorte ( Sim. O acaso) e o investimento ($$) “chumbo grosso”( especialmente se realizado por alguém "bem relacionado", na equação competência=relacionamento+timing) , são os fatores determinantes para que um trabalho se destaque em meio ao mar de novidades diárias ( sim, diárias! ).

6) Nesse blog trabalha-se o conceito do verbo "descodificar" em uma visão mais avançada de simplificar a vida, como diz aquela frase clássica de Homero: "decifra-me ou te devoro". Como a música te descodifica: no momento em que você vê que está fazendo sucesso e vendendo muitos CDs ou quando você recebe um elogio verdadeiro sobre seu trabalho e percebe que a sua música toca realmente as pessoas?


“Decifro-me ou me descartam” (risos). Nunca fiz muito sucesso ou vendi muitos CDs... Sou um artista praticamente anônimo, mas tenho um tamanho que já me dá um suporte para seguir adiante com shows e novos projetos. Quando alguém se manifesta positivamente, acaba injetando combustível, fico ainda mais forte para seguir em frente. Porque percebo que não estou numa viagem completamente solitária e despropositada.


7) Para encerrar essa entrevista, como você vê a sua carreira daqui a alguns anos?


Enquanto eu estiver vivo e com saúde, a carreira existirá.Seguirei fazendo o melhor que posso.Da melhor maneira possível.Amo essa profissão e sobrevivo ( muito bem ).

Tá aí a entrevista. Particularmente, eu adorei. Jay, muito obrigada! 

É isso. Descodifiquem-se.

* Entrevista concedida via e-mail.