sábado, 6 de abril de 2013

A farsa da descodificada



Após meses sem dar sinal de vida, eis que me faço presente. Como diz Toni Garrido, “você não sabe o quanto eu caminhei pra chegar até aqui”. E se depender de mim, nem vai saber. Gosto de mistérios.
Preparem seus olhos, ouvidos, boca e nariz, cabeça, ombro, joelho e pé – joelho e pé: uma revelação bombástica me traz aqui.
Sou uma farsa.
Durante dois ou três anos (matemática não é para mim), mantive esse site com o título de Descodificada – a menina sem códigos, sem pudores, sem papas na língua, sem problemas, aquela que resolve todas as questões, a que conhece todas as respostas para todas as perguntas, uma sábia, uma fofa, uma profetiza, um crânio de estimação. É tudo mentira, minha gente. Cancelem essa ideia tosca sobre mim que eu dei a vocês. Não é nada, nada, nada disso.
Eu criei esse blog por um milhão de motivos, mas principalmente para dar a volta por cima depois de uma paixonite mal resolvida (que infelizmente evoluiu como um vírus estarrecedor), para provar para mim mesma que eu era capaz de ter um blog (depois de não sei quantas tentativas) e porque eu tenho um sonho antigo: sentar no sofá da Marília Gabriela com aquela luz direcionada nas minhas espinhas falando sobre a minha história de vida e de como eu sou inspiradora, ou não. Pode me chamar de vaidosa. Você também é. A vaidade já deixou de ser pecado há muito tempo – não vamos comparar pecado com zona.
Depois de centenas de posts com crônicas fajutas, poemas de infinitos versos e entrevistas que eu amei fazer, chegou a hora de admitir: eu não sou, nunca fui e nunca, mas nem que a vaca tussa e cante a discografia do Jorge Vercillo, eu serei descodificada. Não sei se isso é bom ou é ruim; só sei que menti. Menti pensando que estava falando a verdade. Menti para mim mesma.
Acho que esse blog foi uma tentativa desesperada de dizer tudo que penso. E sim, consegui dizer alguma coisa. Mas volto a dizer: não sou descodificada. Portanto, ao invés de encontrar respostas, tirei mais perguntas da cartola. Mas não me arrependo disso. Aprendi que aprender é melhor do que ensinar – melhor pra mim, não sou professora mesmo. Não posso me vestir de guerreira a fim de salvar o mundo com palavras. É uma ideia bonita, linda mesmo; mas conforme o tempo passa, a gente aprende que palavras não são capazes de mudar o mundo. Palavras são apenas a tradução do que pensamos, sentimos, queremos, bla bla bla. E a melhor arma que podemos usar... Não entendo de armas. Gandhi também não entendia e causou, olha aí – pelo amor do santo Cristo: não me comparo com Gandhi, não disse isso... Ah, vocês que entendem o que lhes for conveniente.
Não sei se voltarei a escrever aqui. A cada dia que passa, vejo que não há sentido em querer matar dúvidas que só sei alimentar. Tenho de me descodificar primeiro, e acabo de perceber que só nos tornamos definitivamente descodificados quando morremos – ou não. Descodificar-se é como ter um grande amor: ninguém sabe se vai acontecer, e você só pode dizer se aconteceu de verdade quando está próximo do derradeiro ponto final.
Isto não é uma despedida. Eu estarei por aí: no Google, no céu, no 11ºandar, nos livros, nos textos que guardo, nas músicas que ouço – e talvez vocês me encontrem no programa da Marília Gabriela, a Xuxa até que estava certa quando disse que seus sonhos podem sim se realizar, conheço gente mais do que realizada nessa vida. Mas não pretendo voltar a escrever aqui. Não vou continuar mentindo para vocês. Vai que o Procon me pega. Morro de medo.
Ah, não, esse blog não será destruído. Quero mostra-lo aos meus filhos, netos, bisnetos – mesmo que se torne lixo eletrônico, tudo bem, eu reciclo. Fui feliz enquanto acreditei na minha própria mentira, mas é hora de tentar ser feliz encarando a verdade que Sócrates definiu muito bem: só sei que nada sei. Talvez eu crie outro blog, talvez eu desista dessa história de me meter no mundo virtual, talvez publique um livro, um roteiro, uma enciclopédia. Talvez. Amo essa palavra. Acho que vou tatua-la em mim. Sou regida pelo Talvez. Essa é minha única certeza.
Quanto a vocês, caros quinze seguidores (e leitores que não conheço): foi um prazer roubar alguns segundos do seu tempo com palavras que devem ter adiantado alguma coisa. Quem sabe não me formo em psicologia e os ajudo de verdade. Tudo depende do Talvez.
E se não for pedir muito, não se esqueçam de mim. Eu nunca me esquecerei de vocês. Ah, e eu não morri. Nem completei dezoito anos. Tenho muito a viver, e ainda vamos nos esbarrar muito. Isso eu garanto.
Obrigada por tudo. E por todos.

(Ouçam a minha músia favorita: Seven days in sunny june, Jamiroquai)

(Terry Fan)
 

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