segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Descodificando o amor virtual

Foi assim: pouco antes de desligar o notebook, entrei no Facebook (viciadamente) e deparei-me com algo que tem sido frequente nesta redezinha em que mais nada me abisma. Mas é que fiquei tão enjoada e descabelada que precisei compartilhar isso com vocês, caros leitores brasileiros, americanos, africanos, europeus e de todo o mundo - Deus salve o Google Tradutor.
Alianças de noivado, compromisso, bla bla blá. Gente falando demais, se amando demais, dedicando canções, fazendo corações com a mão, declarando-se altamente (e perigosamente) apaixonada... Espera aí que eu vou dar uma vomitada e já volto.
O amor virtual é um dos amores mais falsos que há - e essa é uma das certezas que eu nunca vou deixar de acreditar, mesmo quando um sujeito aparecer em minha vida e me fazer amar loucamente. Aliás, o Facebook me fez mudar de opinião sobre algo que sempre acreditei estupidamente: eu pensava que o amor era o tipo de sentimento que devia ser gritado, compartilhado, tatuado na testa, fincado no corpo, que devia parar o mundo só por ser amor, por ser algo verdadeiro, vindo das entranhas do indivíduo que o sente. Deus, como eu estava errada.
Graças à invenção do senhor Zuckerberg, do Saverin e daqueles gêmeos lindos que aparecem no filme, percebi que o amor virtual é algo tão frio quanto um congelador (perdão pela péssima comparação). O amor que você precisa gritar para os outros não é amor, é vaidade - e se você quer ser vaidoso ou vaidosa, é pra isso que existem espelho e maquiagem da Avon. O amor que você precisa dizer que sente não é amor, é frescura, nem chega a ser faísca. O amor que você precisa provar a todo instante por meio de invasões à conta do parceiro(a) não é amor, é possessão e falta do que fazer.
Bom, você deve estar se perguntando: por que falar de um vírus que só trabalha no colegial? Primeiro: essa parada de "colegial" não existe mais; segundo: essa praga desse amor virtual tá pegando gente que tem idade pra ser avô.
O elemento "carência" é uma merda. É uma espécie de gás hidrogênio, de nitrogênio ou de alguma substância explosiva. Altera os neurônios, os nervos, os órgãos e todo o corpo. A carência leva você a fazer coisas que podem deteriorar sua imagem (não só aquela que você quer mostrar aos outros, mas também a que você encontra no espelho e que faz você pensar que está horrível): você diz coisas ridículas, publica imagens do "Rindo no Face", publica letras de canções que nem você entende, escreve o nome do amado (ou da amada) acompanhado de um S2 com caneta Bic no braço (porque não tem grana ou idade pra fazer uma tatoo de verdade), além de assassinar a língua portuguesa com pérolas que não estou com saco para citar no momento.
É só sentir o peso da vida adulta que a carência toma proporções inimagináveis: um ser de 20, 30, 40, 50 anos ou mais volta a ter 15 anos, assinar seu nome com o sobrenome do seu ídolo (que no caso pode ser um vampiro, um jogador de futebol com um penteado mais caro que a minha escova de 60 reais ou uma "diva" que desmoraliza qualquer drag queen com suas vestes) e postar macaquices do tipo " partiu academia". Aí você vai, ama um sujeito ou uma sujeita, se desespera como uma cadela no cio e... Puf, quando o amor acaba, a vida volta a ser a mesma merda de antes.
Nenhum sentimento é desprezível ou evitável. Se sentimos dor, devemos saber porque a sentimos antes de cortá-la pela raiz - embora façamos o contrário na maioria das vezes. Se estamos tristes, devemos aprender com a merda que fizemos ou com a merda que o outro fez. Se estamos felizes, viva, lutemos para que este sentimento não se vá. Mas se amamos de verdade, se sentimos aquele amor que envolve todos os outros sentimentos citados e não citados, devemos preservá-lo. Pra que gritar pra coleguinha que o seu boy tem dona? Talvez porque você tenha vários outros, mas quer mostrar serviço mandando em todos. Pra que dizer pro mundo que você está triste, cansada, feliz, necessitada de um beijo ou que está vendo a filmografia da Jennifer Aninston enquanto chora loucamente atrás de um cara estilo Johhny Depp? Ninguém perguntou nada! - e por mais que isso aumente o seu grau de carência, é preciso encarar a verdade dos fatos.
Não vejo problemas em amar e ser amado, pelo contrário. E acho normal confundir as coisas, ora. O que acho vomitável é a necessidade de se expor, de abrir o coração para um monte de gente que não está nem aí. É pra isso que existem melhores amigas, diários e outras bizarrices.
Se há cura para a carência? Depende do momento, da pessoa, do nível de carência ou se você tá encucado por causa de alguém. Mas chega porque isso aqui não é pleinco nem revista Capricho.
Portanto, na próxima vez que pensar em gritar seu amor para o mundo, dê uma volta no corredor e pense bem se você o/a ama de verdade. E não precisa me dizer a resposta.
















(Ouça Papo Cabeça, Lulu Santos)

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