quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A tristeza e seu remédio



Escrever em cadernos é gratificante. Além de testar o impacto da sua letra sob seus olhos, é maravilhosa a sensação de pegar numa caneta e desenhar a palavra num papel, arquitetar seu poder, fazê-la viva. Mas, infelizmente, não é isso que me traz aqui.
É chato sentir-se de mal com o mundo, até consigo mesmo. Culpemos as tolices da fase adolescente-quase-adulto, o fato de sermos obrigados a aceitar os dias bons e ruins ou simplesmente os hormônios alterados pelo fatídico período mensal que é capaz de enlouquecer qualquer criatura provida de útero – tentei ser delicada. Mas por que associar uma tristeza tida como momentânea à deliciosa sensação oferecida pela escrita à mão?
Não sei de onde tirei a resposta para essa pergunta... Mas creio que existem poucos remédios para a tristeza, a indisposição, o caos interno – chame como quiser. Talvez você ache que sou louca – que seja, já que não se pode lutar contra os rótulos, melhor juntar-se a eles.
Um dentista me disse nessa semana que o remédio ajuda a aliviar a dor, mas não resolve o problema – será que ele previu a publicação desse post? Bom, acho que concordo. Mas é aquela velha história: pode não ter cura, mas tem tratamento. E tratamento pra mim é alívio – ou, em termos um pouco mais sofisticados, qualidade de vida. Hoje sinto-me um caco de vidro altamente cortante, capaz de causar uma hemorragia em quem ousar encostar em mim. Mas amanhã posso sorrir como uma mãe com cabelos lindamente alisados e suéter neutro num comercial de margarina feliz da vida por passar a tal margarina para o marido passar no pão... Ora, quem poderá prever como será o amanhã? Talvez o nosso amigo dentista, claro, se seu poder for confirmado.
Antes que pare a leitura para desfazer os nós nos neurônios, peço que mantenha seus olhos aqui, fixos, sem piscar.
Quando citei a historinha de escrever com a mão, de desenhar a palavra e bla bla blá, preciso dizer que cada palavra referente a esse assunto saiu livre e instantaneamente, como um miojo já temperado. Sério, saiu assim, sem eira nem beira, uma frase brincando de fazer sentido. Mas acho que já era meu remédio chegando... Bastou ver minha letra invadindo o papel como se eu fosse uma espécie de Chico Xavier Full Version que as coisas melhoraram, abri mais os olhos, me senti mais confortável no sofá. E quando reparei que estava parindo um texto de parto normal, ou seja, eu estava usando todas as funções do meu corpo para gerar uma vida (olha o respeito, por favor), senti que até a tristeza pode ser útil.
Escrever é o meu remédio. Mais do que ouvi as canções que ouço compulsivamente, mais do que me sentir num clip do Jamiroquai (calma, “galera”, não uso drogas), mais do que assistir um filme com Wagner Moura e imaginá-lo como meu cônjuge num casamento realmente perfeito. Escrever é o tratamento que a vida me prescreveu para que eu sobreviva com dignidade à sua instabilidade. Pode ser que tudo piore ou melhore hoje ou amanhã, mas eu sei que vai passar, e vai voltar, e vai passar de novo...
Creio que cada “organismo” tenha seu próprio remédio. Basta descobri-lo – mas antes, é preciso entender que a felicidade não é um estado de espírito ou uma animação divertidíssima da Disney. A felicidade é algo tão complexo que só você tendo uma overdose do seu remédio pra entender.
É, acho que já me sinto um pouco melhor.


"Assim, em plena floresta de exclamações, vai-se tocando a vida pra frente."
Carlos Drummond de Andrade


(Ouça Virginia Moon, Norah Jones e David Grohl)







(A prova viva de que eu escrevi tudo à mão)

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