domingo, 21 de outubro de 2012

Primeira pessoa



Resolvi levar meus olhos para passear na calçada mais próxima, e a preguiça era tanta que escolhi o primeiro endereço que a web me ofereceu: este blog. De palavra em palavra, fui aquecendo a cabeça, a alma e a miopia. E percebi algo muito chato (que se repete nesse post): a mania de falar em primeira pessoa. Logo eu, que clamo tanto pelo “coletivo”, pelo sentimento universal, ou seja, por uma teoria ridícula de que preciso falar sobre todos, não sobre mim.
Mas queridos... Isso é impossível. É impossível falar de todos sem se colocar no meio, sem se exemplificar. É impossível citar sentimentos, pensamentos ou qualquer outra substância sem citar experiências próprias – mesmo que sejam fracas demais para serem consideradas “experiências”. Admiro muito o “socialismo” de um blog que escreve em terceira pessoa, sempre deixando suas próprias emoções de lado – mas como devo ter dito em algum lugar por aqui, esse papo socialista só é bonito no papel (e ainda assim é insuportável). Durante muito tempo, evitei falar de mim nesse portal, pois é chato demais falar de si mesmo o tempo todo. Mas percebi que evitar a chatice é atrai-la ainda mais.
Sou a primeira pessoa. Eu, Nathalie Gonçalves, chata, imprudente, que borra a maquiagem da Avon, que não suporta Indie, que não acredita em chiliques, que mesmo apaixonada pelo Hugh Grant não aguenta mais comédias românticas, que ouve Accid Jazz e acha que isso é estilo, que fala coisas tão bobas que chegam a ser indefiníveis, que quer desenhar uma mandala enorme dentro de uma roda composta por repetições da expressão “cosmic girl” nas costas, que é tão chata que para por aqui. Eu sou minha única referência – aos trancos e barrancos, eu faço a minha própria física. E de uma certa forma, quando falo de mim, falo de todos. Não que todos nós sejamos iguais... Cada um faz, fala, sente e pensa de um jeito, ora. O que quero dizer é quando falo de mim, quero que todos se sintam em segunda (e não me menos importante) pessoa ao me lerem ou me ouvirem, se houver uma voz automática em suas mentes que converta minhas palavras tão friamente digitadas em sons – ou vai que tem gente que bota tudo no Google Tradutor e fica ouvindo a voz linda daquela moça fazendo a locutora? 
Gosto de criar conexões. Gosto que minhas palavras inspirem as palavras de outras pessoas... Longe de mim fazer a linha auto ajuda, detesto dar conselhos e vender filosofias inconclusivas. O que quero é inspirar, é arrancar um sorriso que se reflita na tela do computador, é fecundar uma opinião em quem me lê – e se pra isso eu tiver que usar e abusar do pronome “eu”, ok, é um preço a se pagar.
Falar de mim é fácil... É só você sentar do meu lado e perguntar como eu sou, o que faço, o que penso, bla bla blá. Mas não sei dizer se ser eu é difícil – até porque não me lembro de ter sido outra pessoa, então não posso fazer uma comparação digna. Agora uma coisa eu posso garantir: falar em primeira pessoa, por mais colegial ou ridículo que pareça, é revigorante. Recomendo.
Perdoem-me se massacro vocês com tutoriais sobre ser alguém que ninguém é capaz de ser. Só quero inspirar vocês a criarem seus próprios tutoriais. Só quero ajuda-los numa descodificação que estou longe de alcançar, mas que, assim como vocês, tento obter. E saber que alguém me lê – seja aqui no Brasil, nos Estados Unidos, na Rússia ou na Alemanha, seja num escritório com o ar condicionado no máximo ou num quarto revirado – é muito bom.
E chega, porque já estou indo para a segunda página no Word – e não suporto massacrar vocês com palavras demais. 
(Tumblr)

(Ouça Song for a friend, Jason Mraz)

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