Há tempo não escrevo aqui... Ok,
pouco mais de dez dias, mas pra mim é muita coisa. Na verdade, não dei as caras
por falta de assunto. Eu tento perceber as coisas no dia-a-dia, tento cheirar
as manhãs, tento apreciar cada pequeno momento... Mas é difícil converter a
rotina em palavras. É chato ser poético o tempo todo. É insuportável pensar que
cada dia é um capítulo de um livro que só acabará quando pararmos num caixão.
Ultimamente, a preocupação com a
falta de assunto foi algo que só aconteceu comigo, pelo visto. Porque todos têm
o que conversar, têm com quem conversar – e Deus, sobre o que falam tanto?
Sobre a novela que acabou de acabar? Sobre as loucuras da meteorologia? Sobre o
país que vai receber a copa? Sobre um mendigo bonitão?
ATENÇÃO: SE JÁ ESTIVER ACHANDO ESSE
POST CHATO DEMAIS, POR FAVOR, AUMENTE SUAS ESPERANÇAS. ESTOU SÓ COMEÇANDO, ESSE
JOGO AINDA PODE VIRAR.
Gosto de fim de novela. Últimos capítulos
me fazem viajar para um mundo onde tudo é perfeito, onde tudo dá certo no fim,
oh, que mágico. E se for um final bacana, pode ter certeza que vou ficar feliz,
e que por uma noite vou acreditar que terei um fim lindo e maravilhoso ao lado
de um galã mais lindo e mais maravilhoso ainda – mas se for um final chato, pensarei
na merda de final feliz que terei, e com certeza vou dormir furiosa. Sobre as
loucuras da meteorologia? Ué, loucuras não devem ser discutidas, apenas por
médicos – e qual o tipo de médico que vai discutir a bipolaridade do tempo e
vai receita-lo um remédio? Sobre o país que vai receber a copa... Só de começar
essa frase solto um bocejo gostoso. E sobre o mendigo bonitão? Ué, quantos
mendigos lindos devem existir por aí, mas que por causa da carência ou de
problemas com vícios, só enxergamos uma feiura cinza e causada por nós mesmos?
Ih, esgotei todas as minhas opções,
mas a conversa ainda não acabou. Eu acho.
Quando não falamos nada, não quer
dizer que estamos mortos, fechados, secos, ocos. Quer dizer que estamos
pensando, que encontramos na nossa solidão uma espécie de abrigo que não
encontraremos em mais ninguém. Tem gente que acumula amigos, palavras,
emoções... E adora gritar para o mundo inteiro como é querido. Não acredito
nisso. Não acredito em quem parece perfeito, em quem ama um coletivo, em quem
se diz completo. Ninguém, repito, ninguém é completo. Sempre falta alguma
coisa... Se não, cadê a graça? Nem último capítulo de novela é completo. Nem
mesmo o tempo é completo. Nem uma “emoção” tão grande como a de uma copa do
mundo é completa. Nem mesmo um ser provido de toda beleza do mundo – seja um
ricaço ou um mendigo – é completo. Porque não faz o menor sentido ter tudo e
todos, ser feliz como num comercial de margarina sem louça na pia e com suéter
engomado. Uma vida completa não existe, desculpa.
Por isso, gosto tanto de ficar
calada. Não preciso dizer nada, não preciso ter fulanos na minha cola e chama-los
de irmãos, não preciso dizer que sou superior e que aprendo com a vida, não
preciso usar filosofias alheias para mostrar como “sou feliz”. E não fico
calada só por medo de falar besteira... Nem porque curto a ideia de economizar
saliva. É porque gastar emoções forjadas é chato. É chato fingir, é chato
mentir, é chato criar algo sem fundamento. E aí, quando você realmente é
invadido por algo que mexe com seus sentidos, parece que está vivendo uma
situação rotineira, igual às outras. E quando vai adjetiva-la, ou você usa
expressões batidas ou fica sem palavras. Mas é tão mais fácil sorrir, ser
alegre, esdrúxulo, fingir que o mundo é perfeito... E ser humano fica difícil. É
difícil ter o direito de ter opinião quando você quiser. É difícil ser calado,
desengonçado, errôneo, louco, bobo, “sem sal”. Porque não é popular, não faz
sucesso, não é afável. Não fingir sentimentos é algo vazio demais para os
outros.
E do que adianta agradar os outros?
Ora... Os outros são os outros. E só. Obrigada pelas belas e verdadeiras
palavras, Leoni.
Não sei qual será o próximo assunto
a “bomba” por aí. Mas tenho certeza que vou comentar, vou parar meu mundo para
tentar criar uma opinião a respeito do caso, vou viver encontrar palavras que
descrevam essa situação. Por que? Porque mesmo amando um silêncio, sou viciada
nessa brincadeira maluca de sorrir e fingir ser perfeita. Tão viciada que virei
mendiga na calçada nesse mundo surreal criado por um tipo pirata de perfeição –
só que não sou uma mendiga bonita, que pena.
Mas vem cá: você viu a novela
ontem?
(Ouça Overkill, Men At Work)
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