Está aqui o tempo todo. Quando ligo a TV, o rádio, o
telefone. Está aqui quando acendo a luz, quando apago, quando olho o “de fora”
da janela e me sinto bem por estar “no de dentro”.
Está nas atrações e repulsões, no movimento imprevisível das
moléculas, no contato que o pé faz com o chão, imagino. Não precisa empinar
pipas com fios e máquinas e geradores e circuitos e bla bla blá. É só olhar pra
cá. É só olhar pra si.
Está nos condutores, orientadores, bailarinos – moléculas dançarinas,
deslizam no salão sem dificuldade. Mas também está nos isolados pés que não
deslizam, mal se movem, mal querem se mover.
Vive no atrito, no menos que preenche suas lacunas com o mais.
Mas também vive nos que compartilham a energia, a carga, o ar. Vive na
solidariedade imposta: ou aceita a energia que lhe dou ou morre. Indução.
Mas há tensão. Como em qualquer casa, qualquer cidadela,
qualquer país. Há tensão, há divergência, há injustiça. Mas da tensão pode
nascer a força, acredite.
Não se esqueça de que aqui não existe morte, mas
transformação. Transforma o elétrico em térmico, químico, usável. Precisa do
elétrico para o magnético existir e vice-versa.
Há trabalho. Força braçal. Elétrons brigando, correntes, tensão...
Mas há proteção. Há dificuldade.
Vem dos geradores. Desses que não criam, mas que transformam
e compactam para os fios. Vem da individualidade, do suor, da perfeição. Tudo meticulosamente planejado.
Não a subestime. Não a misture com as outras. Ela pode estourar,
assustar, matar. É melhor mantê-la intacta exatamente onde está – aqui, ali,
lá, acolá... Em mim, em você... Em qualquer lugar.
Não tente desvendá-la. Apenas usufrua.
Com moderação.
(Luisa Kelle)
(Ouça Plain Sailing, Tracey Thorn)
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