segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Para não ficar louca #2: Eletricidade



Está aqui o tempo todo. Quando ligo a TV, o rádio, o telefone. Está aqui quando acendo a luz, quando apago, quando olho o “de fora” da janela e me sinto bem por estar “no de dentro”.

Está nas atrações e repulsões, no movimento imprevisível das moléculas, no contato que o pé faz com o chão, imagino. Não precisa empinar pipas com fios e máquinas e geradores e circuitos e bla bla blá. É só olhar pra cá. É só olhar pra si.

Está nos condutores, orientadores, bailarinos – moléculas dançarinas, deslizam no salão sem dificuldade. Mas também está nos isolados pés que não deslizam, mal se movem, mal querem se mover.

Vive no atrito, no menos que preenche suas lacunas com o mais. Mas também vive nos que compartilham a energia, a carga, o ar. Vive na solidariedade imposta: ou aceita a energia que lhe dou ou morre. Indução.
Mas há tensão. Como em qualquer casa, qualquer cidadela, qualquer país. Há tensão, há divergência, há injustiça. Mas da tensão pode nascer a força, acredite.

Não se esqueça de que aqui não existe morte, mas transformação. Transforma o elétrico em térmico, químico, usável. Precisa do elétrico para o magnético existir e vice-versa. 

Há trabalho. Força braçal. Elétrons brigando, correntes, tensão... Mas há proteção. Há dificuldade.
Vem dos geradores. Desses que não criam, mas que transformam e compactam para os fios. Vem da individualidade, do suor, da perfeição. Tudo meticulosamente planejado.

Não a subestime. Não a misture com as outras. Ela pode estourar, assustar, matar. É melhor mantê-la intacta exatamente onde está – aqui, ali, lá, acolá... Em mim, em você... Em qualquer lugar.

Não tente desvendá-la. Apenas usufrua. 

Com moderação. 

 (Luisa Kelle)
















(Ouça Plain Sailing, Tracey Thorn)

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