domingo, 23 de setembro de 2012

A política como ela é



Oitocentos e dez milhões de resultados no Google tentaram me vencer. Mas meu santo é forte, bem. “Se liga” no compasso.
Há um bom tempo – não sei dizer quanto – eu decidi que iria fazer faculdade de Ciências Políticas. Eu acreditava que essa faculdade me faria tão inteligente que eu não caberia dentro de mim. Aí falei com mamãe – pessoa carinhosa, inteligente e de cabeça lapidada como um diamante – sobre minha suposta decisão, sendo que eu devia ter menos de quinze anos quando a tomei. E mamãe, ser sábio que é, me perguntou francamente:
“Naná, você sabe o que é política?”
Dei uma resposta tão fajuta que nem sei reproduzir hoje que já estou provida de algum punhado de inteligência. Mas falei algo que comparava política à administração de uma cidade, de uma empresa, bla bla blá. Porque eu já gostava de fazer a intelectual desde fedelha.
E segundo a Wikipédia, não estou errada, só dei uma resposta incompleta. Mas eu não confio na Wikipédia – a não ser quando quero saber da vida de algum artista.
Até mesmo na origem da palavra dá-se o técnico significado: comunidade, coletividade, sociedade. Foi o que eu quis dizer, mamãe. Me dê pelo menos meio ponto.
Na época, mamãe disse que tinha uma resposta melhor. Disse que política tinha a ver com conversa, interação, opinião. Para minha genitora, a política está no ato de conversar, de expor ideias, de aprofundar seus horizontes da forma mais simples possível. Política requer total interação, assim como sentar numa mesa de bar e conversar sobre a novela das nove e entender que a mocinha deve fazer justiça. Entendeu o que eu quis dizer ou quer que eu desenhe?
Bom, eu cresci, superei obstáculos, larguei a época de fedelha (só um pouco) e cheguei a esta tão aconchegante pocilga. Amadureci, e digeri melhor o que mamãe quis dizer. E é nessa época onde todos estão surdos graças a carros de som e caminhadas desnecessárias que resolvi compartilhar – ou melhor, descodificar - esse assunto com vocês.
Venhamos e convenhamos, falar de política é um saco. Mas que política é essa que discutimos? A política que pra nós é sempre suja, corrupta e onde ninguém presta? Porque é essa política que nós, ignorantes por motivos ridículos, temos como referência. A política da dentadura, do voto de cabresto e dos que “não valem nada”.
Tá na hora de mudar esse conceito, amiguinho.
O que este blog está tentando falar (com certa dificuldade) vai além da raiva que sentimos de engravatados, de jingles dor-de-cabecíveis e santinhos que mostram o lado mais obscuro do Photoshop – ou daqueles que não sabem usá-lo. Na cidade onde vivo, vive-se um inferno – na hora de Avenida Brasil, um vereador usa um funk com introdução daquela musiquinha do 1 Direction pra poluir milhares de cabeças com seus cinco dígitos. E todo mundo deixa pra pensar em política quando outubro chega. Tsc, tsc.
Ok, descodificando a política: esqueça os santinhos, os candidatos, os carros de som, a merda do horário político. Foque na alma do objeto. A alma do negócio. A alma da verdadeira política – aquela que esquecemos, que confundimos, que maldizemos. A verdadeira política é realmente aquela que se estabelece no ato da conversa (não no aperto de mão e na dentadura, caro candidato), na vontade de mudar. E quando digo “vontade de mudar”, não cito o velho nome que essas coligações “megacriativas” usam. Primeiro porque toda e qualquer mudança vem do ser humano, do “eu-mesmo-lírico-interior” que todos têm. Segundo que todos temos vontade de mudar, de fazer algo capaz de melhorar nossas vidas.
Então, se pensarmos por esse lado, todos somos políticos. Sim, fazemos política todo dia – aí a feminista da poltrona vai dizer: “claro, quando o cara promete que vai ligar no dia seguinte e não cumpre”, e eu digo “minha filha, louça não se lava sozinha”. Somos políticos quando pensamos, quando queremos mudar algo em nossas vidas, quando somos racionais, quando nos organizamos. Quando conversamos. Quando lutamos por um consenso. A política está em casa, na vizinhança, no trabalho, e olha só, na sua cidade. A política está no casamento da ação com o pensamento.
Portanto, ser político não é uma profissão. Se for, ser humano também é uma profissão. Todos somos políticos a partir do momento que lutamos por respostas – mesmo que sejam para nossas perguntas mais íntimas, profundas e misteriosas. Aquele cara lutando por melhorias na sua cidade nada mais é do que alguém que estudou leis, possibilidades e formas de melhorar a situação do lugar onde você vive – e eu sei que você vai concordar comigo quando eu disser que ele também devia fazer um curso de como não incomodar seus eleitores. É por isso que eu acredito que todo e qualquer cargo “político” (sem deixar de respeitar seu significado “técnico”) deve ser voluntário, pois a partir do momento em que uma comunidade abriga cidadãos políticos e seus próprios representantes, por que o tal representante deve ter privilégios? Só porque está lutando por um bem que também vai satisfazê-lo?
Muitos dirão que estou trocando as bolas, que não existe cidadão político, mas politizado. Primeiro que eu abomino esse termo “politizado”. Minha gente, não vamos ramificar algo tão simples como a política. Segundo que todo cidadão é capaz de, como eu já disse antes, exercer a sua própria política. E quem representa a comunidade deve estar munido de conhecimento suficiente para lidar com problemas e soluções – e opiniões distintas que, no fim das contas, geram uma bola de soluções para os problemas. Quem representa a comunidade deve entender que todo problema traz uma solução, mas toda solução acaba trazendo algum problema também. Por isso, é preciso ter paciência com esse círculo vicioso (espero estar usando o termo correto). E por que um representante não deve ter privilégios além de um bom banho quente quando chegar em casa? Vem cá, vocês já viram representante de turma ter privilégio? Nem ponto a mais no boletim eu tinha quando representei minha turma!
Muitos pensarão que esse é um discurso socialista – tolinhos, fiquem calmos, eu sei que o socialismo em sua forma abstrata é lindo, digno de Oscar. Mas vamos combinar que do capitalismo não dá pra sair, porque essa história de todo mundo ter tudo igual e viver feliz num comercial de margarina é um porre, além de não convencer ninguém. Não é porque a vizinha tem um CD do Luan Santana que eu também devo ter outro, assim como não permito dividir com minha vizinha a idolatria por John Mayer. Quero ter a liberdade de comprar o que quiser sem ter que parar pra pensar se o outro vai comprar também – não me entendam mal, mas é que socialismo pra mim é ditadura. Cabe à política sã de cada um se desvencilhar dos preconceitos e seguir um caminho de liberdade de pensamento – de preferência, sem a necessidade do uso da maconha para tornar isto possível.
Depois de um texto tão longo, só quero desenhar uma conclusão: a política que vemos hoje em dia é falsária. A verdadeira política é aquela que nos rege, que rege nossas ideias e pensamentos. São várias políticas que geram uma única forma de governar. E essa política resultante de tantas outras é bem mais que voluntária, é coletiva. O ato de governar um sistema ou uma sociedade é voluntário, vem dos valores cidadãos e devidamente intelectuais de cada um – quando digo intelectual, digo que é necessário ter noção de leis, de valores, de direitos, de deveres e de ética.
Enquanto sonho com um mundo assim, um carro de som passa na minha rua.
Em tempo: faculdade de Ciências Políticas? Deixa pra uma próxima vida.
 

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