quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Blogando para as galinhas



Hoje deu vontade de ser ridícula. Baixou um 2005 em mim que tô assustada. Acho até que vou voltar pro Orkut.
O negócio é o seguinte: são quatro horas da madrugada, estou sem sono (o que não devia acontecer, pois acordei cedo e estudei o dia inteiro e estou cansada) e milhares de galinhas parecem morar no meu quintal e caminhar e cantar e seguir a canção.
Mesmo com canais legais disponíveis na tevê e com um iTunes pra chamar de meu (porque eu sou do tipo que não tem porcaria nenhuma da Apple, mas vai que você ganha um iPad nessas promoções bem originais do “FB” e tem que passar seus bagulhos pro tablete?), resolvi blogar. Sim, quando digo blogar, quero dizer: ser ridícula.
Mas não basta ser ridícula. Tem que voltar no tempo. Mais precisamente, pra 2005.
Por que 2005? Porque é o ano mais ridículo que me permito lembrar. Quinta série, Wagner Moura, mudança de escola... “Blogar” estava na moda. Menos pra mim, que tentava convencer minha mãe a abrir uma conta no Orkut só pra fazer um álbum com doze singelíssimas fotos e participar de uma “comu” sobre a vida e obra de Jorge Vercillo.
"me add no kut" - como ele insistia..
Que saudade.
Eu me lembro bem de como era viver naquela época. Acordava cedo – cinco e meia da manhã. Eu morava num lugar lindo, movimentado, bem “cara da ryqueza”- bota “MAUÁ-RJ” no Google e você vai entender o meu deboche. Ok, não era um lugar magnífico, e a única diversão era a lanchonete do Cabeção... Mas eu posso dizer que morei perto da praia. Mesmo que não pudesse banhar meu lindo corpo em suas águas que sim, mostravam cinquenta tons de cinza – e preto e verde musgo.

Ah, eu dizia que acordava cedo, não é? É porque eu morava em Mauá, mas estudava em Magé. Digamos que Magé esteja meio nível acima de Mauá – mas só meio nível, porque pelo menos Mauá tem praia, amigos mageenses. Magé tem mais comércio, tem escolas bacanas (e eu estudei em uma delas) e... Vamos parar por aí que já está bom. Se você mora em Mauá e tem um carro, Magé fica a meia hora – mas leve em consideração o fato de que referenciais não são comigo. Bom, meu transporte era uma Kombi velha em que as nossas costas seguravam o encosto do banco – isso quando eu estudava em Fragoso, mas foi só no começo de 2005. Eu disse que mudei de escola, lembra?

Pois bem. A tal escola era em Magé, e a Kombi que me levava era mais direitinha. Entre alunos sonolentos e pedidos desesperados para que os garotos e garotas fechassem as janelas antes que os meus cabelos ficassem com vergonha e tornassem-se espécies de porcos-espinhos, o motorista ouvia seus forrós dignos de “Seu Valdair, que música é essa?”. Aliás, saudade do seu Valdair. Gente boa, gente fina. 

Ao chegar à escola... Bom, eu realmente amava aquela escola. Tinha os estranhos que não falavam comigo – porque sempre tem um recalcado pra morrer de inveja da sua beleza “entorpecêntrica” (mistura de entorpecente com excêntrica, gostou?), tinha os surfistas lindos e maravilhosos e DEUS, O QUE ERA AQUILO!... E tinha os meus amigos. Bom, não vou citar nomes, até porque não quero perde-los, ora.
Não vou negar: eu era insuportável. Tão insuportável que, numa aula de educação física, caí sobre o próprio braço e ao invés de gritar de dor, gritei de felicidade por imaginar que havia quebrado o braço e poderia engessá-lo – que azar, foi só uma merda de uma contusão. Retomando o prelúdio sobre a minha “insuportabilidade”,  eu era realmente muito chata. Eu era o tipo de criança que ouvia MPB e gostava de política, imagina se eu não merecia umas porradas.

Ah, os meus professores... Primeiro o de Ciências. Tales, se a memória da “gossip girl” ainda estiver em dia. Eu o adorava. Era um tipo cinquentão gente boa – mas que uma vez tacou giz no meu amigo por ele ouvir música, e ainda foi responsável por um dos diálogos que eu nunca vou esquecer justamente pelo teor de idiotice:
- Mas professor, estou ouvindo Beatles! – disse esse meu amigo.
- Dane-se, desliga essa porcaria, tá na minha aula é pra me escutar, engraçadinho. – Ah, querido professor!
Ok, basta desse tipo idiotice. Vamos para um tipo pior.
A professora de Português. Roberta. Amiguíssima – tão amiga que eu sentava na frente só pra bater papo com ela, enquanto ela queria dar sua aula. Nossa, eu queria ser igual a ela: ter unhas grandes e sempre pintadas, um batom vermelho “daora” e poder usas decotes sem me sentir a Geisy Arruda. Até o seu tom voz eu queria igual. Dyvah.
A professora de Redação. Rosenéia ou Roseléia – Rose, para os íntimos. Eu gostava das roupas que ela usava – mas só, professora, me desculpe. Ela tinha os cabelos encharcados de gel e gloss que ia dos lábios aos dentes – mas não quero bulinar ninguém, então vamos descrevê-la psicologicamente.
De fato, a professora Rose era bacana. Mesmo falando errado, mesmo amando o Lula, mesmo que às vezes debatêssemos política na hora da dissertação. Gente boa.
A professora de espanhol... Sheila. Até hoje tenho saudades dela. Sua voz era tão delicada que eu costumava sentar mais atrás – sabe como é, último tempo, nervos à flor da pele, fome agredindo o estômago e o resto dos órgãos. Ela não falava espanhol – havia uma espanhola dentro dela, simplesmente. Apaixonada por Luis Miguel, obrigava-nos a ouvir a voz doce e suave do mexicano de dentes separadíssimos mais garanhudo de las Americas – tarefa fácil pra “muá”, que ouvia o cara por causa da minha mãe, ó, querida mãe que canta espanhol tão bem assim como Narcisa Tamborideguy detém toda a seriedade deste mundo. Grande Sheila...
E então veio a professora de Teatro – amiguinhos de plantão, corrijam-me se a Daniela foi da sexta ou da sétima série. A “Dani” não era lá nenhum exemplo de beleza – um dos meus melhores amigos vivia rindo da ausência de sutiã da professora e de seus cabelos sedosos e... Ok, sem Bullying ou más interpretações. Eu sempre imaginei a vida cigana da Daniela, só porque ela usava saias rodadas e bem estampadas, Moleca, lápis de olho e blusas que salientavam vocês já sabem o que. Mas era querida. E criativa... Tão criativa que me fez participar de uma peça da Rapunzel ou da Bela Adormecida em que eu era uma bruxa chamada Gothel. Risos.

Seu Valderes e tia Sol... O primeiro era uma espécie de porteiro. Chique, topetudo, sorridente... Éramos seus amiguinhos do coração. E a tia Sol? Sempre de bermuda e sandália colorida. Brigava... Mas quando ouvia conversas sobre garotos, era a primeira a opinar. 

E como falar desta época sem falar dos meus amigos? Sem citar nomes, claro, somente as iniciais – aprendi na seção policial dos grandes jornais. O A. era meu melhor amigo – dormiu na minha casa, era carinhoso e inteligente. Sua letra era linda. Era meio tonto, mas fazer o que, é a vida, uai. Amigo de fé, irmão camarada.

A A.G. era companheirona, tipo, boladona, boladona. Era da filosofia “se não gostou, engole”, e era popular na época das fotos de 2 megapixels com toca do flamengo. Mesmo assim, dava tempo de ser romântica – e olha, era cada cidadão que ela arranjava... Mas teve uma paixonite dessa minha amiga que era lá da escola , o T. Ele era do ensino médio, tipão, olho morto e nareba, um Samuel Rosa que só pode ter sido feito em laboratório para ser tão... jeitoso. Eu, a A.G. e a S. tínhamos um orgulho para compartilhar com o mundo: éramos amigas de um bonitão de outra turma. A nossa turma não tinha bonitões. Sabe o tamanho desse nosso feito? Nem eu!

A S. era engraçada. Seus apliques no cabelo – que você percebia que eram apliques – eram sua marca. Adorávamos sua mãe. Bom, a S. sempre foi meio tontinha, mas também era amiga de fé. E por isso, eu retribuía a sua amizade com um favor bem específico.


Limpem essas mentes podres de vocês, ok?

Ela era apaixonada pelos surfistas do 3º ano. Mas você não entende: não era qualquer surfista. ERA A COISA MAIS LINDA QUE OS OLHOS DE UMA PRÉ-ADOLESCENTE PODIAM ENXERGAR. Eles são as pessoas mais bonitas que já conheci até hoje, pra você ver como a minha vida social tá movimentada. Ah sim, o favor... Eu escrevia cartas de amor no nome da S. para os bonitinhos. Mas quem estudou comigo sabe: se tem uma coisa que o Jorge Vercillo me deu de bom foi a criatividade pra romantiquices. Ninguém sabia rimar um “verão” com “paixão” como eu. Diz aí, surfista que me conheceu!


Ah, tinha os outros amigos... O E. ia comigo na Kombi. Sabe aquela pessoa que é tão preguiçosa que te faz sentir preguiça também? Ele mesmo. Até a voz do garoto era lenta, em ssslooooumooitiioon. “ÔÔÔ Naaaathaaaliiiee...” – eu juro por Deus que isso não é gagueira. Mas era bacana. Às vezes se inspirava pra dizer alguma coisa... É, acontece.

Tenho que falar do U. Quando vejo o Mocotó na “Malhação”, só me lembro dele. O tipo “tiro nota vermelha, mas não tô nem aí, pelo menos eu faço rir” que todo mundo venerava – menos os professores. Sabe o que é alguém com histórias babacamente hilárias? Então. Lembro até hoje da forma como ele contou que o seu telefone recém-comprado havia caído no valão. Claro que eu não vou saber contar. Então simplesmente imaginem.

Tinha também a R. - cara de modelo, olhão azul ou verde, o que tinha de descolada tinha de invejada; a L. - reliogosa, inteligente e, segundo rumores, apaixonada por M. - a J. a Barbie da turma, era tão in que, mesmo sem Twitter ou Facebook, mandava indireta por cartinha; não era uma indireta, era quase um cascudo - A G. - parceirona, inteligente e engraçada - A I. - eu queria ser corajosa e espirituosa como ela - O T. - o metido da aula de ciências, mas a gente tem que ter um metido por perto pra ficar metida também...
E como não falar do M.? Esse rende boas histórias. Era o garoto mais nojento que conheci na vida escolar – mas não se preocupe, caro M., até porque gostar de coisas nojentas pra mim é mole; eu adoro miojo de tomate com ovo e pão molhado no chocolate quente, então ligue os pontos e descubra que tenho simpatia pela sua pessoa. Cabelinho asa-delta, relógio caro (ou era uma imitação do cacete), tênis bacana, mochila da hora, cadernos invejados por mim (tinha folhas pretas!), TODAS as cores de caneta stabilo que você possa imaginar – até onde eu sei, ele não é gay, mas eu duvido que seja. Também me lembro de sua metideza – o idiota levava o notebook, que na época era tão importante como o iPad hoje, só pra assistir “Todo mundo em pânico” na hora do recreio. Mas aí ficamos isso – mas não vou negar que antes disso eu tive vontade de esgana-lo, mas só joguei coca-cola nos seus lindos cabelos. Ah, lembro dos seus deboches como ninguém. Mas há um fato que marcou-me: quando caiu da mesa do professor e ficou com as pernas arreganhadas, como uma barata ou qualquer outra espécie de bicho. Sua face não era de deboche. Já a minha... Bom, para não dizer que sou boa amiga, claro que o ajudei a levantar – depois de rir um bocado. A idiota ainda se preocupou se ele havia se machucado – ó como eu sou boazinha!
O M. era o tipo de menino que ninguém aguentava. Mas por vezes, eu tinha a sensação de que ele não queria ser aguentado. Ou talvez ele morresse numa carência desigual. Uai, vai entender... Só sei que era o tipo de figura que a gente não entende, mas tem vontade de entender. Mas uma coisa eu sei bem: amigos como A. e M. fazem falta. Era maravilhoso estar perto deles. Sem escárnios.

Agora chegou o momento doce de falar sobre a saudade que sinto de vocês. 

Das minhas amigas, sinto falta de como eram descoladas e independentes. Dos professores, de como nos motivavam a ser alguém. Dos outros amigos, de como foi importante vocês terem me aturado. Do A., e de como sua irmandade faz falta. E do M., ora, pelas grandes histórias, e por me motivar a escrever outras mais. E os que não foram citados... Não me esqueci de vocês. Lembro-me de todos como se ontem mesmo os visse. 
(Lágrimas)
Pronto, vamos falar de coisa boa?
Vamos! Agora a Nanazinha aqui vai dormir. Muito feliz por ser ridícula, por conhecer pessoas ridículas e por saber que, quanto mais ridícula, mais momentos eu arrecado (ou recado, turma?). A vida é isso: quanto mais idiota, melhor.

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