segunda-feira, 25 de julho de 2011

Vícios

Antes de qualquer coisa, devo dizer que eu já pretendia escrever esse post antes da Amy morrer. Não escrevi antes por causa de um vício. E se sua morte coincidiu, não tenho culpa, é a vida - e a morte também, né?


Essa história é a mais pura realidade. Uma coisa que acontece comigo e com todo mundo.

Começo pelas férias de julho. A gente vive sonhando com esse mês, com o descanso, com a liberdade tão maravilhosa de poder acordar na hora que quiser... E quando as tais férias chegam, por mais que você comemore o seu primeiro dia embalado pelo ritmo de "Rock with you", é praticamente impossível não chegar ao último dia com um Tim Maia de voz gasta cantando "Me dê motivos pra ir embora...". Mas não é sobre julho que quero falar - se fosse sobre isso, com certeza eu falaria dos dezesseis anos que completei ou do dia do amigo, o que seria uma verdadeira chatice ou rasgação de seda. O assunto é mais sério. Mas como é meu, falo do jeito que eu quiser. Brincadeirinha.

Com o começo das férias, a gente fica em êxtase. Eu fiquei. Não pensei em viajar, passear... Pensei em descansar. Em fazer o que a rotina não me deixava fazer, fosse o que fosse. Foi aí que decidi explorar o mundo, navegar em mares de diversão e fantasia, conhecer mundos novos e exuberantes... Ou seja, ficar o dia inteiro no Twitter comentando a novela da tarde - ou curtindo o álbum de algum amigo meu no Facebook, ou o que é pior: reblogar fotos dos outros no Tumblr.

É, eu precisava da Rehab (ah não, lá vem a Amy).

Parece uma coisa pequena, mas não é. Não vendi o vídeo cassete pro traficante do morro mais próximo (by Mel Ferraz, vulgo, "O Clone"), não bebi perfume (de novo a tal da Mel), não fiquei fissurada numa pedra de crack ou sucumbi ao pó do Maradona. Mas nenhum vício é pequeno, e eu sei que o neurologista que ler esse post vai concordar comigo. Qualquer vício é sério, tem fundo incontrolável e tem talento pra matar neurônios (ainda estou certa, suposto doutor que me lê?). As manias existem, mas a diferença entre roer a unha e fumar a erva proibida é tão grande que nem precisa ser dita. Todos nós estamos pré-dispostos a essas doenças, às loucuras de se "grudar" numa ação ou numa reação.

E sabe o que é pior? É que qualquer vício codificada a gente. E essa deve ser a maior diferença entre um vício e uma mania. O que a gente chama de mania, que pode ser dormir cedo ou estourar bolha de plástico, pode até parecer uma coisa estranha, só que é aquilo: as manias servem para nos distinguir, para nos descodificar, para que a gente solte o nosso estresse e ganhe um sentimento de segurança, de confiança. As manias quebram os códigos que a gente tem, isso é certo. Mas os vícios... Eles criam mais códigos. Eles violentam a nossa inteligência, sabia? Veja um viciado em Internet (eu, admito e procuro ajuda por estar no início): o tempo exaustivo que fica no computador perturba suas ideias, e como diria meu querido Mayer, "todo mundo precisa de um tempo sozinho, pra conseguir cumprir suas tarefas e dar vida às ideias" - não lembro se foram essas as palavras, mas foi o que eu entendi, e eu sei que ele poderia dizer exatamente isso em qualquer canção.

O que importa é que todos, e eu já disse e repito em intensa caixa alta: TODOS CORREMOS PERIGO. Somos viciados, por mais que não saibamos. Podemos ser viciados em pessoas, em remédios, em medos, em histórias, em tragédias, em lágrimas. Tudo serve de droga. Mas a única droga que possui um vício saudável é a vida. O que nos salva é isso, é fazer da vida um vício frenético e implacável. Viver bem, de forma despretensiosa e equilibrada... Isso é um brinde para os viciados na vida. Já pensou nisso?

Sei que ninguém é perfeito, e não sou louca de repetir esse clichê num blog que é totalmente contra os códigos que nos perseguem, ou que perseguimos, sei lá. Mas isso é a vida: é você fugir de um monte de obstáculos e não pensar em chegar ao fim. O vício não tem o poder de melhorar nada, só de piorar. E é desse poder que falo, desse desatino tamanho que é viver nessa corda bamba. Somos vítimas de qualquer coisa. Mas antes de ser vítima, a gente pode ser culpado. Esse é o jogo do vício. Por isso que é tão importante tentar absorver algum tipo de leveza, de equilíbrio, de razão. Simplesmente por ainda ter a chance de ser feliz - mas aí a gente parte pra uma questão mais delicada, e por isso, mais chata.

Eis que julho ganha sua última semana. Eis que minha tia me chama para o café na cozinha e eu esqueço o computador. Eis que meus primos me chamam para contar história. Eis que minha mãe me chama para comer pipoca doce. Eis que minha amiga se esforça para ir comigo ao cinema. Eis que meus avós me chamam para ver novela e comer misto quente.

Eis que o dia começa, e a gente vê que nem tudo é cutucada ou curtição de amigos. Vemos que pode ser interessante viver por conta própria, sem precisar de nada pra tentar - com um sonoro "frustradamente" - ser feliz.



*Amy, se você lê isso do além, relaxa. Tão dizendo que existe reencarnação.



#Descodifique-se!

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