sábado, 21 de maio de 2011

Recomeço e retrocesso

Olho esse título e incorporo um código de barras, é bem verdade. Como diz o velho e bom Hebert, “do muito que li e do pouco que sei”, já devo ter ouvido umas mil teses sobre recomeços e mudanças radicais, das mais variadas possíveis. Ouvi dizer que uma viagem de pelo menos seis meses pela Europa revigora qualquer pessoa. Ouvi dizer também que um corte de cabelo ou uma simples mudança na cor já faz grande diferença e estimula a transformação de dentro pra fora ou vice-versa. Compras, caminhão de mudança, cidade nova, gente nova…

Mas aí pintou uma dúvida nessa “assimilação” que eu tentei fazer – enfatizo o verbo. Pensei: “o que move nossas mudanças?”, e aquela velha teoria de que “tudo é uma questão de autoestima” não colou. Continuei pensando, sozinha, sem direito à consulta, seja para quem fosse. Uma ou duas horas depois, surge a conclusão: só existe um verbo que estimula esse tal “recomeço” que tanto insistimos em citar, é o verbo cair. Depois de um bom tombo, me diz, quem não implora por um descanso e por uma nova chance? Porque recomeçar é isso: é o que vem depois da queda, o pós-curativo, a fase que sucede a terapia e essa é a teoria que criamos porque nos parece a mais cabível. É a tal segunda ou terceira chance, aquele ar que a gente respira e acha que é totalmente diferente de tudo que já vimos antes, bá. E nesse novo capítulo fica a dica: “Não repita os mesmos erros!”. Uns andam na linha, acuados e disciplinados. Outros ficam tão felizes que pensam que a vida é isso, várias quedas e vários recomeços. Tá aí, a segunda linha de pensamento até que não é de se jogar fora... Resolvi estuda-la com cuidado.

Continuei pensando: você está lá, forte, seguro, equilibrado e imbatível. Está mais bonito, pronto pra outra, seja o que Deus quiser. O primeiro tempo é aquela novidade, aquele instante de espanto misturado com fascinação. Não para de andar, segue na estrada sempre pensando positivo. E vem o segundo tempo com experiências mágicas e deslumbrantes, daquelas que provocam brilho nos olhos de qualquer “transformado” por aí. Você conjuga novos verbos – chega a conjugar antigos, mas com outras configurações, se me compreendem. Você não desiste. Está afoito, surpreende-se consigo mesmo. E se sente mais seguro que alvo de assobio de pedreiro, misturando tudo e sem se arrepender de suas escolhas, cometendo menos erros, mas… Volta a fita, por favor. Não entendi esse conceito de recomeço; substituir velhos códigos por novos e dar a desculpa de que “minha vida é simplificada”? Demorei até pegar o espírito da coisa.

E então me lembrei de um fator essencial: estava pensando de um jeito perfeito demais, e se quero pensar nesses tais “mistérios” que todos nós temos, devo passar bem longe da perfeição, o que nunca vai ser difícil. Tem uma hora em que toda felicidade imaginária de um recomeço cai por terra. O equilíbrio vai embora, aquela força se esvai pelos dedos, tudo que você “pregou” nas suas paredes é abalado por um terrível terremoto. Calma, não falo de fenômenos naturais: trata-se do retrocesso, o maior inimigo do recomeço no meu segundo round de pensamento intensivo. É voltar à estaca zero, tremendo como quem vai cair de novo. Esse aí cobrou demais da minha mente.

Admitamos que regredir é fácil, mas regredir descaradamente é alucinante. Primeiro: não assumimos que ainda somos falíveis; segundo: a fase da queda é de péssimas lembranças, então nos auto alertamos: não ultrapasse!; Terceiro: você treme. Você já tremeu, está perto de cair, não adianta! E então se segura no primeiro poste, até que o poste cai com você.

Você retrocedeu. Você caiu de novo.

E aí? Recomeçar, fazer de novo, “tenho disposição”, precisa mesmo disso? Será que é o certo? Será que esse tal destino que a novela da tarde cisma em citar a todo instante existe e está botando as manguinhas de fora alertando a mudar sua opinião? Droga, essa história de retrocesso dá um medo danado…

Entre recomeçar e retroceder existe uma longa e surpreendente estrada. Você pode encontrar novos caminhos, novos ares, novas histórias… Mas o recomeço é importante e exclusivo demais para acontecer um milhão de vezes. Ele é único demais para ser confundido com revanche. E o retrocesso pode ser a “fada-madrinha” disfarçada de bicho de sete cabeças que só quer dizer uma coisa: quedas existem, mas o que vem depois delas não precisa ser necessariamente o recomeço, e sim, um novo parágrafo para uma história que não pode mudar. É isso: histórias não mudam, apenas acabam, começam ou caminham de outra maneira. Você recomeça todo dia? Refaz suas memórias, seus caminhos, seus defeitos ou suas qualidades… Tudo numa única manhã? Ou você apenas acorda, sem esperanças, apenas com olhos atentos e sentidos apurados? Uau, adoro responder perguntas com as próprias perguntas.

Nós recomeçamos sim, porque somos humanos e temos todos os verbos em nossas mãos. Mas quando retrocedemos? Quando alguém ou alguma coisa da folha anterior insiste em participar da folha seguinte.

Acho que concluí esse pensamento da forma mais “vivida” possível. E isso não é motivo de orgulho.

vlasilav

Vlasilav.

 

#Descodifique-se.

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