quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Desventura codificada

Apagou tudo o que foi escrito. As palavras saíam meio desgastadas, a inspiração estava péssima – se é que havia insipiração num dia tão quente como aquele. Música no volume mais alto, insatisfação… Nem a mais bela das músicas promovia algum bem-estar que fosse. Não tinha o que escrever. Isso a incomodava. Destava parágrafos. Gostava de misturar as coisas, de seguir impulsos, de se perder nas ilusões que construía. Via os programas mudarem, as vidas mudarem… O que havia de errado com ela? Os pés no chão? A cabeça na Lua? As palavras tortas? O fim da música?

Ela não gostava de paragráfos, eu já disse. Mas a música seguinte começou tão bem que ela abriu uma exceção. Estava pensando no tédio que sentia, na falta de explicações para a falta de perguntas. Suas gavetas estavam desarrumadas, seus dedos tocavam as teclas com distração e fraqueza – por vezes, havia irritação por conta dessa tal fraqueza ao digitar, e por isso, acabava forçando a digitação e escrevendo palavras que não eram pretendidas. Ela pretendia escrever, mas não sabia se era só mais uma obrigação. O som da TV a incomodava mais do que ver o ator metido a galã mostrar seu porte másculo como se realmente tivesse vocação ou porte másculo. Era cutucada, e tinha raiva disso. Queria algo que estava no último andar. Ela gostava de ir às alturas, mas não tinha escada. Se um dia aprendesse a voar, a primeira coisa que faria seria acordar do sonho e dizer: “isso é tolice”. Não queria saber voar, só queria algumas milhas para percorrer o mundo. Não fazia questão de primeira classe ou descanso de braço. Bastava-lhe apenas a janela do avião e a luz da Lua refletida na asa do avião. É, ela amava voos noturnos.

E parou de escrever. Pausou a mão, revoltou-se, sentiu-se mal. Inquieta que só, não conseguia definir o que era certo ou errado. Resolveu andar um pouco e descansar os olhos e ouvidos. A falta de inspiração a deixava aflita demais para uma noite tão irritante como aquela.

facgtgtg

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