Desliguemos os rádios e todas as suas músicas envenenadas pela órbita desenfreada dos pedidos de fim de ano. Vamos calar a voz de quem nos manda negar a satisfação entre as linhas da “paz iluditória”. Não é loucura o que digo, mesmo tendo a cara dela. A loucura tem cara? Se tem, todos nós temos a cara da loucura. E é por isso que existem tantas máscaras no mundo.
Deixemos as janelas escancaradas. Não para ouvirmos os estouros dos fogos de artifício que embelezam o céu, mas para sentirmos o vento. Deixemos isso ser ridículo. É algum crime ser ridículo quando estamos perto de algum fim?
Não. Não podemos dizer que é o fim. Amanhã será janeiro, só mais calendário será trocado, apenas um descanso virá. E nem é mais um começo todo trabalhado na pompa. O começo se faz todo dia, quando se dorme e até quando se vê o amanhecer. Mas deixemos o dia de hoje para agradecer, e não vamos transformar esse agradecimento em obrigação. Será apenas para rever o que houve de importância em nossas vidas – quero dizer, o que veio para nossas vidas nesse ano e ficará para o próximo, com o mesmo destaque. Como lembrança? Sim, onde já se viu negar as lembranças?
Qualquer roupa servirá. O planeta não faz questão de grandes sofisticações no completar do seu giro em torno do Sol. Ele quer apenas começar o próximo, continuar caminhando, manter erguida sua concentração. Ele andará por mais doze meses. Nós também. Teremos os mesmos pés, as mesmas mãos, as mesmas vidas. Ainda teremos o direito de modificá-las, mas isso é só um adicional que faz a sua diferença. Mas sabe qual é a maior diferença entre nós e o planeta? Nós teimamos em trilhar destinos perfeitos, com rumos paradisíacos e momentos fantásticos, tudo na ponta da língua. E o planeta? Ora, esse não tem aonde chegar, e nem voltar ele pode. Ele só deve seguir, sem pensar, sem abrir os olhos. E ele segue. E nunca se perde do caminho. Enquanto nós… Bom, nós sempre nos perdemos.
Pedir não é tudo. Agradecer? Nos faz bem, é a verdade. Viver? Isso é sempre mais importante. Por isso, quando os fogos iluminarem o céu e quando mais um giro da Terra mostrar-se concluído, não precisamos pular sete ondas ou comer trezentas uvas. Que tal cumprimentar a Terra? Que tal agradecer por estar vivo? Que tal assumir-se como ser humano e ver que é só mais um dia com plumas e paetês, mas sempre é o nosso dia?
Foi mais um ano. Mais um capítulo indispensável. Mais uma aula. Mais um roteiro. E nós? Somos mais uma vida inteira que continua seguindo, e que no fundo, nunca tem roteiro certo. E se tem, pra quê saber qual é?
Estamos vivo. Isso é mais importante. Isso já é tudo. Cheios de códigos ou não, mantemos acesa nossa esperança. Esperamos a felicidade. Esperamos a luz. E o que recebemos? O dom da vida. O poder de viver e sermos quem quisermos ser. O poder de estarmos vivos é muito maior do que pensamos. Por isso, não pensemos. Basta sorrir. Basta agradecer. Já mostra que a vida tem sentido, mesmo quando ele se esconde algumas vezes. Ora, a vida é isso: é poder mudá-la, mas ter que mudar a si mesmo. E o ano que virá? Assim como o outro, é só mais um. E nem por isso deixa de ser único.
Feliz ano novo. Ou melhor, “Feliz giro novo, planeta Terra”.
é impressionante como você escreve, fala as coisas perfeitamente certas nath.e eu ainda me impressiono a cada coisa que você posta aqui.
ResponderExcluiré lindo cada palavra,cada frase. chega até a me inspirar, me faz pensar na vida. você é maravilhosa amiga, parabens!
by:Liih