quarta-feira, 13 de junho de 2012

Corpo e matéria


Começa assim: abre teus olhos, dá teu bocejo de despedida e cai na vida de novo. Queda livre. Sobes ao topo do mundo num rápido lançamento vertical de si mesmo e te joga, breve e sem destino, numa vida insana que deixaste pra trás por oito ou nove horas. Recuperas teu ritmo sem freio, sem constância, apenas na base da variação de um uniforme movimento repleto de fórmulas, equações e confusões.
Pés no chão. O mundo ainda é um globo da morte, onde senos, cossenos e radianos brigam, exaltados, contidos num ambiente sem vértices de apoio. Acalma-te, criatura! É preciso diminuir a velocidade no ponto mais alto. Lembra-te disto ao acordar, ao escovar os dentes, ao olhar no espelho tua mais plena e fantasiosa forma e exaltá-la aos quatro ventos, ao correr o dia juntando tuas qualidades num pacote de biscoitos, ao descansar o corpo num colchão de anseios tão teus que ferem mais do que é permitido. Lembra-te de manter o controle para evitar a queda, meu bom. Não se esqueça, vê se tatuas em tua testa: ao perder o contato com o globo da vida, quando a iminência da queda soprar teu ouvido num arrepio derradeiro, diminua a velocidade.
E então, quando descobre-te protagonista d’um gráfico de variações a todo instante, vê que o teu dia tens como combustível a eletricidade da emoção. Tens pelos arrepiados pelo frio que abriga a barriga – dando trabalho aos resistores viventes no teu cérebro, prestes a presenciar uma descarga elétrica memorável. És magnetizado por energias alheias, que passam por teu corpo como um mosquito que sobrevoa a atmosfera do teu sono e te embarulha o ouvido sem que dê permissão. Olhos arregalados – lentes exaltando todos os lados, todos os ângulos, concavidades, convexidades, convergências, divergências... Espelhos com reflexos distintos, misturando teus anseios com os alheios, gerando um conglomerado de focos que se perde em qualquer esquina quando enfeitiça teus olhos com a causa de teu arrepio maior.
Jogaste teu corpo num mar de perturbações, caro leitor. As ondas amparam teu corpo, te dão períodos e frequências tão contrárias como os pares e ímpares, como as rosas e os espinhos – as ondas amparam até mesmo as nossas fajutas comparações. Teu corpo descansa na gravidade que beija as oscilações – o movimento é intenso, mas a garantia de que nem o vácuo te derruba é puro ouro. E reflete, refrate, difrate, interfere, dispersa, vibra... És vivo no cansaço que onde a consciência propaga, onde os teus erros ensurdecem. E no fim, ouves um som tão sensível e gélido quanto o que resta do teu inteiro, do teu meio, do teu despedaçado.
Mas acorda. Teu espectro sonoro grita. És vivo. És ser. És puro som, pura fúria.
A vida é rápida. Percorre quilômetros de distância em anos que encarnam segundos. A vida é uma velocidade média calculada com o auxílio de um poderoso computador – ou não.  Pode ser um sombrio vínculo gerado através da reação de tuas ações; pode ser a força que aplicas em teus passos ligeiros, onde pés batizam solos em busca de módulo, sentido, direção.
Mas não há repouso. Ah, não há.
A vida é rápida.

(Grape Frogg)
















(Ouça Gravity, John Mayer - Com muita ironia, claro)

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