Há alguns dias, deparamo-nos com notícias sobre projetos políticos (?) que queriam promover a segurança sobre direitos autorais no “núcleo central” da democracia: a web. Autores, cantores, editoras, gravadoras... – ou seja, todas as entidades detentoras de direitos sobre músicas, textos ou qualquer outro tipo de “mídia” serão totalmente beneficiadas. E nós, pobres seres mortais, amigos do ócio e da obesidade mórbida e feitos sinteticamente de sedentarismo puro e cristalino, é claro, seremos punidos. Para que não haja punição, devemos acabar com aquela velha e boa solidariedade virtual que chamamos de “compartilhamento de arquivos” – e não pense que é só o pobre nerd de mãos engorduradas e espinhas no rosto que sofrerá com pipas, sopas e outras siglas de gosto duvidoso. O funkeiro, forrozeiro, roqueiro, amigo do gueto ou até mesmo a pobre pessoa que quer apenas baixar o último lançamento da Britnéia terá que dirigir-se à loja virtual mais próxima e gastar um suadíssimo dinheiro numa única canção – isso se ela não quiser afastar suas nádegas da cadeira e gastar mais dinheiro ainda numa livraria. Nada contra as livrarias... Inclusive, deixo claro que não há coisa melhor do que sucumbir ao site dessas super lojas e vibrar com descontos em cd’s originais dos seus ídolos.
Vamos resumir estas palavras? Faremos melhor: que tal descodifica-las?
Para os extremistas de plantão, o capitalismo chegou ao seu limite máximo. Para os viciados em política, a crise resolveu estampar as páginas policiais com fotos de donos de site de compartilhamento escondidos em cofres abarrotados de dólares, euros e outras “verdinhas”. Para os revoltados, fica a pergunta: será que ao menos sobrará o Twitter para registrar meus xingamentos no mundo ou terei que pagar para mandar todas essas entidades para aquele lugar onde o Sol não bate?
E para os desacreditados, futuros suicidas e “posers” (expliquem-me o real significado desta palavrinha), só resta propagar o fato de que uma menina não compareceu ao comercial do papai porque foi... Bom, vocês sabem para onde Luiza foi.
O que vim fazer aqui? Bom, esta é a mesma pergunta que milhares, milhões e zilhões de pessoas fazem neste momento ao receberem o aviso dos seus lindos computadores que a conexão com “a rede” está autorizada. Até os marmanjos – pobres homens adjetivados de forma brega e decadente veem-se sem chão com o fim da pornografia virtual. Os pais preocupados agradecem. Os garotos vitimados pela puberdade enlouquecem.
De repente, regredimos. Nossos pais, avós e as gerações mais anteriores ainda conseguiram viver sem TV, rádio ou outras coisas que hoje são indispensáveis para nós – e viveram sem a web, minha gente! Mas em qual século? Em qual milênio? Num tempo bem distante, isto é bem certo. Num tempo com costumes diferentes, com pessoas diferentes, com clima diferente... Eles viveram com o que construíram: invenções, teorias, obras de arte etc. Nós vivemos da opinião que construímos, das nossas invenções, vivemos da evolução de quem não vive mais. E não nos esquecemos de nada... Só de ex-BBBs, mas isso (ainda) é permitido.
Tenho medo dessa insanidade virtual, desse vírus de poder (e de metáforas) que invade nosso mundo. Somos diferentes dos que foram há anos e dos que vão ser daqui a anos. Não é possível que nossas opiniões, tão bem registradas na internet se esvaem para que os já intactos padrões de cultura sejam mantidos e obedecidos ao pé da letra. Não é possível que deixemos de ter nosso precioso espaço para mostrar quem somos e do que gostamos.
Enfim, aqui estamos. 2012 chegou... E isso está sendo gritado há quase um mês. Mas agora, o medo não é da morte propriamente dita. Nós temos medo de ver nossas opiniões morrerem. Temos medo de perder o reinado que o poder do livre arbítrio nos deu. Ah, como queríamos que esta fosse apenas uma época de revolta política, onde caras pintadas e sangue no asfalto fossem o suficiente para nos trazer a liberdade que queríamos...
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