O “Decifrando por aí” desse mês está especial. Antes que as almas leitoras comecem a se debater atrás do motivo, cá vos digo, queridos amigos: estamos chegando ao post 100 – isso se já não chegamos. Pra quem pensou que não fosse passar do post 10, até que é uma vitória bacana, certo?
E antes que a sessão de vanglórias comece, vamos ao que interessa. Como administradora desse blog há mais de um ano, deixo claro que aprendi muito (e sinto que ainda tenho muito a aprender). A Internet, esse meio tão estranho e incompreensível é uma das minhas melhores fontes de inspiração. E dizer que tenho uma “morada” nessa rede é algo que sempre vai me dar orgulho.
Ok, sem mais delongas. Não estamos aqui para contar posts, lágrimas, palavras ou seja lá o que for. Estamos aqui para o que sempre fazemos (ou tentamos fazer) nesse blog: fazer a diferença. Em todas as crônicas, poemas e entrevistas, encontram-se palavras e pessoas querendo mudar – não apenas por questões particulares, como fazer sucesso ou acumular seguidores. São pessoas querendo mudar o jeito como veem as coisas, como veem o mundo. Mudar é um verbo grandioso... É o tipo de verbo que precisa de outros verbos para funcionar, como “querer” e “fazer”. E mesmo com essa aparente dependência, é fascinante, é assustador... É único. Um verbo único e exclusivo para quem quer conjuga-lo.
O nosso entrevistado de hoje é um cara que decidiu conjugar esse verbo. Michel Lent Schwartzman, carioca, formado em Telecomunicações Interativas pela New York University é dessas mentes inquietas com um quê revolucionário. Foi um dos primeiros no país inteiro a trabalhar com a Internet – essa “redezinha” onde decidimos passar a maior parte do nosso tempo. Nos anos 90, quando o computador era jurássico e confuso para a grande maioria da população, Michel descodificou essa máquina e trouxe o resultado para o Brasil, depois de uma longa temporada de estudos em Nova York. Criou sites para personalidades de diversas áreas, auxiliou na inserção de empresas como Petrobrás e IBM na web, desenvolveu trabalhos para a Globosat, a Rede Globo e outras empresas, além de estar presente no board executivo da estruturação e lançamento do Globo.com, um dos portais mais acessados do país.
Em 2011, Michel continuou mudando – dessa vez, a sua própria carreira. Tornou-se o vice-presidente da empresa líder em marketing mobile no Brasil, o Grupo Pontomobi/RBS.
Que tal conhecer um pouco mais sobre esse cara? O que um dos “pais” da web no Brasil tem a dizer? Como deve ser descodificar essa web?
Confiram o nosso papo. Now.
1) Você foi um dos primeiros brasileiros a desbravar a Internet numa época onde computador era para poucos (e para fazer muito pouco). Quais foram as suas maiores dificuldades, aquelas que você se orgulha de ter enfrentado?
A maior dificuldade era o maior prazer: ter que inventar tudo. Não existia formação profissional, modelo comercial, conceito ou processo. Quem começou lá atrás (como eu) participou de cada detalhe da construção da indústria, o que é muito bacana. As dificuldades de ontem eram as mesmas de hoje: controlar a ansiedade e a frustração em perceber que o mundo já mudou, mas muitas coisas ainda seguem como ‘antigamente’. Acho que já evoluímos muito, mas ainda estamos muito no começo disso tudo. Os impactos da digitalização do mundo e agora da mobilidade ainda não foram totalmente absorvidos. O mundo ainda vai mudar e muito.
2) De onde saiu a decisão de "mexer" com uma mídia tão "duvidosa" para os anos 90? Em algum momento bateu desespero... Chegou a pensar em desistir?
Saiu do acaso, do destino, carma. Nosso querido Steve Jobs fala no seu famoso discurso na formatura dos alunos de Stanford que você deve tentar conectar os pontos daquilo que você faz ou acontece com a sua vida. Comigo aconteceu exatamente isso: a então nova área de multimídia juntava absolutamente tudo que eu gostava de fazer na vida e que não se conectava de forma alguma. Imagine alguém que gostava de fotografia, informática, música e design se não existisse a multimídia? Essas atividades não faziam nenhum sentido, pareciam um total desperdício de tempo. Quando eu conheci esta ‘novidade’, dei-me conta que não havia desperdiçado um dia da minha vida com tudo que tinha feito até então e que tudo aquilo era fundamental pra formação de um bom profissional multimídia. Foi uma epifania, eu me encontrei! Jamais me arrependi, jamais bateu desespero. Jamais me senti trabalhando. O que eu gosto de fazer na vida é exatamente o mesmo que faço pra ganhar a vida. Sinto-me abençoado!
3) Pra você, o que significa "fazer a diferença"? Você acha que faz diferença?
Fazer algo que seja relevante não apenas pra você, mas pra aqueles que estão em volta também. Eu não sei faço diferença, mas sempre me preocupei com o entorno. Então, espero que sim...
4) Hoje em dia, quem entra na rede quer ser popular, fazer sucesso. Quando você olha pra tudo isso e vê que fez parte do processo de criação e estruturação da web, sente-se mal por não ser tão famoso quanto os outros "magos" da Internet ou sente-se bem por simplesmente ter feito parte disso, ou seja, dane-se a popularidade pra quem já fez muito?
É uma ótima pergunta. Pense que quando a internet comercial começou no Brasil, eu conhecia menos de 50 pessoas que trabalhavam com isso. Durante muitos anos, quando a internet era dos nerds, eu era um dos mais famosos da internet como um todo. Ainda sou o 3º no Google quando você procura por ‘Michel’, mas imagine que antes de Michel Teló e o Michel do BBB eu aparecia em primeiro! Era uma época em que, se alguém trabalhava com internet e não me conhecia, eu podia afirmar sem falsa modéstia que a pessoa estava mal informada.
Daí o mercado cresceu e vieram milhares de outros profissionais. Veio a junção da Internet com a mídia de massa, e quem passou a ‘mandar’ em popularidade na Internet são os mesmos que mandam na mídia como um todo.
Ver essa turma toda entrando e perder meu lugar de ‘estrela’ absoluta de saída foi estranho. Mas rapidamente entendi o quão positivo isso era. Sinal de que o mercado estava crescendo, de que aquilo que eu havia escolhido pra fazer na vida e ajudado a começar havia se tornado popular. E entendi que havia os famosos da mídia de massa e os ‘micro-famosos’ da Internet, aqueles que eu considero os verdadeiros ‘magos da internet’, grupo do qual me orgulho em pertencer.
5) Qual era o seu maior medo quando começou sua carreira? E agora que você já é um cara "feito", ainda tem algum medo? Se tem, qual é?
Eu demorei bastante a encontrar o que eu gostava de fazer. Entrei para o mundo da multimídia e da internet aos 25. Mas desde os 15 eu ficava às voltas com o que queria fazer da vida, e esse período foi muito angustiante. No dia que juntei tudo na multimídia, foi uma guinada de vida inacreditável e meus medos se dissiparam.
Acho que meus medos atuais são muito banais, mas nem por isso menos angustiantes. Tenho medo de perder relevância, de não conseguir mais fazer a diferença. De me desatualizar, de não ser mais útil. O mundo de uma forma geral está cada vez mais ‘juniorizado’ ao ponto de um camarada de 40 anos se sentir ‘velho’, o que é uma loucura considerando que a expectativa de vida das pessoas é cada vez mais longa. O mercado de Internet força essa sensação um pouco mais do que outros, pois ele é todo muito jovem e há pouca gente experiente trabalhando nele. Por outro lado, essa é justamente uma vantagem.
6) O que você acha que pode melhorar na web?
Acho que estamos deixando a era da programação e entrando na era do design. Design é encontrar soluções para os problemas ou necessidades das pessoas. Até aqui, a Web abria possibilidades para fazermos coisas que não podíamos fazer até então. Por pior que seja a experiência de um internet banking, você prefere usar o site a ter que ir ao banco pessoalmente. Mas isso era uma novidade em 2002. Nove anos depois, eu não quero só um internet banking que funcione. Eu quero uma experiência de produto satisfatória. Eu quero ter prazer em usar a ferramenta. É neste mundo que considero que estamos começando a entrar, onde o design vai fazer a diferença.
7) Nesse blog exalta-se o conceito da descodificação, ou seja, da simplificação. Você se sente um descodificador? Por quê?
Sim, porque acredito que o belo é o simples. Simples é funcional. Funcional é algo que as pessoas podem utilizar. Eu me preocupo em fazer aquilo que possa ser usado pelas pessoas e que faça diferença para elas.
8) Pra encerrar... O que te descodifica, seja pessoal ou profissionalmente?
Amadurecer.
Eis o nosso papo... Interessante, não?
Para quem quer saber mais sobre o cara, faça como eu: encontre-o no site www.viuisso.com.br. Michel está no Twitter (@lent) e no Facebook.
#Descodifique-se.
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