terça-feira, 1 de novembro de 2011

Finados? Hã?

“O que você faria se só lhe restasse esse dia?”
Olha, seu Paulinho Moska, eu... Não faria nada. Se amanhã fosse meu último dia (2 de novembro), eu ia ficar bem irada: meu último dia de vida cai justamente no dia de quem já não tem dia. Entendeu?
Ok, serei mais fina, elegante, delicada... É. Mais respeito, Nathalie.
O dia de Finados sempre soou estranho pra mim. Como uma homenagem: eu, que estou vivíssima, devo chorar e sofrer durante todo um dia por alguém que sinto saudades todos os dias – saudade saudáveis, se é que existe saudade saudável. Por isso, prefiro pensar que é apenas um feriado, onde homenagearei, acordando após o meio-dia, as almas que já se foram. “Hehe.”
Mas aí... Se alguém puxar meu pé? Ou se a minha consciência me acordar no meio da noite dizendo que estou errada e devo ao menos rezar um terço pelos que não estão mais ao meu lado?
Epa, negrita essa frase aí: “não estão mais ao meu lado”. Ótimo. Toquei na ferida (tá bom, vamos poupar as expressões nojentas).
Pesquisando bem, descobri que o dia de Finados celebra a vida eterna, o amor que não morre. Epa de novo.
Dizem que quando a gente ama de verdade, a gente não esquece. Amor não morre nunca. Amor por amigo, por irmão, por aquele homem ou mulher que te completa, por pai e mãe, tio e tia, vó e vô... Etc, etc e etc. Amor de verdade não morre nunca. Nem que a tal pessoa amada morra ou simplesmente se afaste de você, viva uma vida nova onde a sua presença não seja frequente. E dizem que o amor é isso, é você não se esquecer nunca. Dos momentos legais, daqueles em que você chorou de raiva ou emoção, que você riu até lacrimejar... É esse o tal do amor verdadeiro, é lembrar-se de tudo... E consequentemente querer de novo.
Mas você já teve. Ou melhor, ainda tem. Não num túmulo cinza e frio de um cemitério horripilante. Ou numa carta de um amigo dizendo que está bem e também sente saudades. Tudo que se vive ou já foi vivido é armazenado – isso na minha cara concepção, claro. Até as coisas mais simples, como um primeiro beijo, uma primeira entrevista de emprego ou mesmo a primeira conta que você pagou, a primeira grande dívida que você fez. Nossas memórias internas são infinitas, já disse isso. Tudo bem que elas não são totalmente à prova de esquecimento... Ora, quem está ligando para esses pormenores? Enquanto pudermos lembrar, sonhar, chorar e dizer que sentimos falta, está ótimo. E estará melhor ainda quando entendermos que todo dia é dia de lembrar com carinho, de pensar que tudo que fica dentro de nós merece destaque, merece importância.
Eu penso que a morte não é lá a melhor coisa que acontece. É como a última vez que vemos os créditos de uma novela passarem voando pela TV numa velocidade incontrolável, num “adeus” escondido, contido, e que mesmo assim dá uma vontadezinha de chorar que ninguém esconde. A gente chora nos primeiros dias, outra novela começa, mas aquele protagonista... Ninguém consegue ser como as personagens daquela outra novela. Ninguém é capaz de entender a necessidade que temos uns dos outros. Mas essa novela, meu caro... Você viu. Você acompanhou de perto, e não se arrepende de cada minuto do dia que perdeu assistindo fielmente cada capítulo. Você sabe o que viu, e agradece a cada dia por ter visto tudo que viu.
É como você ir embora, ou ver que alguém foi embora. Mudou de cidade, vive de um outro jeito... Mas sonha que ainda vai se encontrar com aquela pessoa. Até o dia em que você chora e percebe que a vida continua. E num belo dia, desses corridos e de importância padrão, você encontra esse amigo ou amiga num lugar cheio de gente, uma loja, uma rua, uma rodoviária... Você sabe que é ela. E sua vontade é sair correndo, dizer que a quer por perto, que... Que você não consegue mais. E as suas pernas ficam trancadas, presas ao chão, duas pilastras com menos de meio metro. Pilastras segurando um corpo que quase cai.
A gente não tem como fugir da morte, das despedidas, das tristezas que cruzam com a gente todo santo dia. Mas precisamos disso, precisamos entender que perder faz parte. E que nunca perdemos de verdade. A vida continua. E não importa, seja seu parente morto ou seu amigo que não vê há anos... Seja quem for. Quando há amor, quando há ternura, nenhuma distância te marca. Porque a solidão só existe pra quem quer ficar sozinho. Deixemos que o sentimento recrie a causa da nossa saudade, e assim não estaremos sozinhos. Seremos ouvidos, por mais que não possamos ouvir... Ouviremos apenas as lembranças, e saberemos projetar as respostas para nossas perguntas.
A vida não acaba, não morre, não vai embora. Apenas... Perde-se. Até o belo dia em que a encontramos. Enquanto isso, o melhor que temos a fazer é viver. É brindar cada minuto, cada segundo que é eterno enquanto dura.
A vida é eterna. Mas não é pra sempre. É confusa. E existe pra ser vivida. Simplesmente.
Para meus queridos vô Nelson e vó Léia, vovovó, tias... E para todos aqueles que não mais convivem comigo, por motivos de distância ou escolha, mas que sempre serão lembrados com muito carinho.
P.S.: Entendeu agora por que não devemos sentir culpa ao curtir o feriado do dia 2?
by john mayer 1
(John Mayer)















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