“12:53, Nathalie. Esse post sai ou não sai?”
Foi desse jeito que o relógio do Windows fez o favor de me lembrar que 12 de outubro chegou. Estou numa madrugada de quarta-feira com o alarme do celular desativado, ou seja: é feriado! E agora, com 16 anos e umas mil características que adquiri com o apressado passar dos anos, esqueci-me de pensar no real valor de um feriado – sim, pra que saber por que ele existe se ele simplesmente existe? Perguntar pra que se a resposta não faz diferença, se nada vai mudar?
Ai, como eu detesto essa tal de praticidade.
Foi então que percebi minha insatisfação com essa minha cabeça. É, anda cheia de um lado e vazia de outro... Muito desnivelada. Desse jeito, não vou estranhar se um dia desses eu cair... No choro.
Estou nova pra isso? Uai, foi a infância que me ensinou que não existe idade pra lágrimas. Se fosse assim, nenhuma criança choraria quando caísse de bicicleta e arranhasse o joelho. Ou quando seu pai se recusasse a comprar aquela cozinha de plástico linda e que, com certeza, você perderia todas as peças quando seus primos endiabrados se metessem no seu quarto para brincar com você.
O que importa é que estou com as ideias meio confusas, preciso de algo que me revigore. Eu não, talvez todo mundo precise. Algo que rivotril nenhum é capaz de fazer. Algo como... Como um backup. Uma formatação básica do sistema interno. Uma descodificação precisa da mente humana.
Resumindo, uma volta ao passado. Aperte seu cinto: o piloto é você mesmo. Portanto, comece a rezar. Eu já comecei há tempos.
12 de outubro de 2002.
- Mãe, posso fazer pirulitos de chocolate na fábrica da Eliana? - pergunto, com aquele ar de pentelha.
- Por que tem que ser pirulito? Filhota, a mamãe prepara um brigadeiro só pra você, mas por favor, não use aquela fábrica - minha mãe responde.
- Por que não, mamãe?
- Porque a mamãe vai ter que lavar depois, meu amor.
Alguma tarde de verão de 2003.
- Mãe, por que só uso o mamãe & bebê?
- Porque você é um bebê, minha querida.
- Mãe, me dá o CD do Jorge Vercillo?
- Ai Naná... Vai brincar com sua escumadeira, vai.
Natal de 2002.
- Naná, o que você faz com essa escumadeira? - pergunta minha prima.
- Uai, eu imito as pessoas que gosto, e finjo que é um microfone.
- Mas você fala sozinha... E brinca sozinha.
- Eu tenho uma amiga, a Elisa.
2004.
- Naná, desenha a Elisa pra mim? - pede minha mãe. O desenho sai com uma bola torta e com fios loiros que representam cabelos bem escovados.
- Onde ela mora? - mamãe pergunta.
- Em Cinco Amores - respondo.
- Onde fica isso?
- Não sei.
- Quantos anos ela tem?
- 21.
- O que ela faz?
- Ajuda os pais numa pizzaria aqui no Rio.
- Filha, como a conheceu?
- Foi um dia em que você e minha vó estavam distraídas. Ela estava com muita sede, e pediu água. Ficamos amigas. Ela me visita toda noite – mamãe fez cara de pavor quando eu disse isso.
2005.
- Naná, o que você vai ser quando crescer? – pergunta minha tia.
- Não sei... Mas quero fazer Artes Cênicas, Medicina e História da Arte.
2003.
- Você consegue ler minha mão? – pergunta minha tia, altinha - só no sentido alcóolico da situação.
- Sim. Sinto vibrações... – respondo, sendo que nunca tinha ouvido falar em Herculano Quintanilha.
- Ai, meu Deus – minha tia chora – Eu amo tanto essa menina!
- Vejo uma letra A.
- A de que? – pergunta.
- A de amizade, de amor... Só sei que vejo um A.
Minha tia não se conteve em lágrimas.
E isso foi só um exemplo... Ok, chega de nostalgia. Chegou a hora da análise completa.
Baseando-me nos fatos citados e comparando-os com a atual essência da minha mente, é inegável o fato de que continuo a mesma. Ainda gosto de Vercillo – e consigo gostar de outras coisas! - ainda questiono o fato de ter usado mamãe & bebê por tanto tempo, ainda tenho diversos projetos amontoados na minha cabeça, ainda gosto de chocolate – da minha mãe ou da Eliana - apesar de não falar com Elisa, sinto-me igual a ela, ainda falo sozinha...
E posso dizer: acertei boa parte das minhas previsões. Minha tia está namorando um cara que tem um nome que, pasmem, começa com A. Tá vendo? Eu não era tão charlatona assim...
Sei que o tempo passou. E ainda passa, e eu sempre me perco. Mas tenho meu ponto de referência: a inocência da época que sempre ficará gravada nessa minha mente inquieta. Posso viver atarefada, sem tempo pra nada, esquecendo-me de tudo e de todos... E ainda sim serei a maluca que fala sozinha. Sozinha não – com o relógio do Windows.
Feliz dia das crianças. Feliz resto de vida.
(Nick Volkert)
#blogdesc
Minha musa sa laje- refiro-me à essa foto tão chique que colocaste no perfil- voltei mais no tempo que você... Natura Mamãe & Bebê, uma fabriqueta de Chocolates e de Sujeiros da Eliana. Saudades, mesmo sinto da Elysa(com Y, vcê deixava bem claro), daquelas histórias que apareciam do nada e tinham continuidade. Você É, isso mesmo, É, uma criança linda! Quando devora chocolate, dorme abraçada coma a Catá ou ainda acredita emm mentiras óbvias. Amei esse post nostálgico. Hoje é dia de relembrar, bebê!
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