Domingo de sol. Previsões corriqueiras dizem que pancadas de chuva amedrontarão quem tirou o dia para relaxar na praia ou na piscina: ao invés de ter o corpo refrescado por um saudoso mergulho em águas doces ou salgadas, a chuva faz o favor de refrescar o corpo todo da forma mais agressiva e problemática que pode existir. Mas ainda é domingo... E está só começando. É só mais um fim de semana, é só mais uma manhã em que você acorda cedo porque tem algum compromisso que não tem nada a ver com estudos ou trabalho. Então, aproveite. Tente. Ora, domingo não é garantia de nada. Nenhum dia carrega alguma garantia, nada carrega garantia.
Lá estou eu, com aquela minha carinha difícil de explicar, com aquele meu olho torto ao sorrir e aquela velha vergonha na hora de expor minhas próprias características. Lá estou eu num lugar que gosto, e que deve ser a única coisa que consigo entender – não tecnicamente falando, pois isso não é tarefa para mim. O lugar não é lá muito colorido: tem mármore, vidro escuro, luzes quase brancas, vista para os táxis... E o movimento mais interessante é o das rodinhas das bagagens. Ou dos passos de quem carrega as bagagens. Ora apressados, ora cansados... É estranho pensar que, em um só lugar, o céu faz um contato direto com a terra. E acredite, não vi nenhuma mesa branca por lá.
A voz que estala nos tímpanos é uma versão rouca e afeminada do Rod Stweart – está bem, com alguns toques de Cauby Peixoto. Percebe-se que não é lá a voz que alguém quer ouvir... Mas quem se importa com vozes vindas de uma tela presa na parede, que apenas diz quem chega e quem sai? Bom, todo mundo se importa. Não com o tom esquisito, mas com o que essa tal voz diz. Informações primordiais para quem pousa os pés perto de alguém que, a alguns metros, pousa um avião cheio de gente. E de situações totalmente avessas ao que alguém ousa pensar no âmbito do lar.
Gente que corre, gente que não se move por nada nem ninguém, gente que chora, gente que ri, que vai embora, que abraça, que não olha pra ninguém, que dá as costas, gente que sonha, que tem medo, que rói as unhas, que quer ir, que quer ficar, que quer voltar, que quer ver alguém voltar, que reza, que se cala, que fala sem parar, que presenteia, que quer fugir, que quer não pensar em mais nada... Gente que se divide em milhares de sentimentos, de insanidades, de perturbações e de desejos. Gente que faria um bom elenco em novela mexicana. Gente que... que vive. E que veio. Que chegou. Ou que vai embora.
E é ali, naquele portal, naquele meio-termo, naquela casa de encontros e desencontros que... que é impossível não se perder. Entre os portões, os elevadores, as pistas, os estacionamentos, as lojas, os corredores, os pisos, as escadas, as lembranças... E quem quer saber de lembranças quando se chega ao céu? Nem os mortos, na maior das suas aflições, deve lembrar de alguém. Pula nas nuvens, deixa o tempo passar... Mas a diferença é que ele se livrou do tempo. E os vivos que tocam o céu ainda estão lá, presos aos relógios, aos ponteiros que se invertem de acordo com os mapas, com as sensações térmicas, com as posições geográficas. E o céu, por mais lindo ou assustador que seja, é só mais um jeito de se jogar nessas incríveis contradições que a vida oferece. Ver as estrelas ou ver seus filhos? Sentir o calor do sol ou do abraço daquele amigo? Beijar o céu ou aquele “amorzinho” que, com os pés na terra, te aguarda dias a fio?
Perguntas, perguntas... E apenas um desejo. Que a viagem, de ida ou de chegada, dure a eternidade necessária para que a saudade do céu seja friamente assassinada.
(Artista desconhecido, apenas reblogado pela blogueira)
#blogdesc
Como é bom "ler" você... Dá um orgulho, vontade de gritar pro mundo o quão sensível e inteligente é a minha pequena. Mas aí, me seguro, me policio, afinal, não quero ser sua tiete. Não gosto de tietagem. Gosto da admiração real e merecida. Lindo demais!!!!!!!!!
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