sábado, 8 de outubro de 2011

Que linha é essa?

Conversando com uma amiga do meu estágio sobre a ideia de morar sozinha, empolguei-me e expliquei, com todas as letras, que seria pelo simples fato de ter liberdade, declarar problemas de gente grande, sei lá, apenas ser independente.  E ela disse: “Claro, você é toda certinha, você anda na linha”.
Ok, alguém me explica que linha é essa?
Está bem... Esse blog existe para simplificar, e quanto mais descodificarmos as perguntas que fazemos, melhor. Por isso, vamos recorrer ao que chamamos de “cabeça”, quebrar esse recurso e tentar descobrir quem é essa tal linha. Se contássemos com a ajuda de geógrafos ou simples mestres da arte de encontrar países em mapas ou falar sobre relevos, diríamos que essa tal linha que a querida “colega” citou divide o trópico de câncer e o de capricórnio, o bem e o mal, o céu e o inferno, o rock e o funk, o café e o leite, o queijo e a goiaba, “eu assim sem você”. E se contássemos com a ajuda de astros e astrólogos, diríamos que essa tal linha é a mesma que desenha um M na mão de todo mundo – M de maldade ou de mamãe. E se perguntássemos ao Djavan, ele diria: “luz das estrelas, traço pro infinito...” - ainda bem que eu não perguntei.
Mas o que mais me perturba é o fato de ser chamada de certinha, e de ter esse “elogio” associado a outro fato – aquele tal de “andar na linha”. O que é ser certinha? É chegar em casa cedo? É acordar de bom humor? É dizer que a sua menor nota é 9? Ou seria dizer que sua virgindade só será perdida depois do casamento?  Não ter problema com os pais? Ser a amiga perfeita? Gostar de todo mundo? Saber tudo e falar sobre tudo? Ser controlada? Uai, o que é ser certinha? E que linha é essa onde devemos andar? Seria uma passarela? Um calçadão? Um tapete vermelho? A areia de uma ilha paradisíaca?
Tive que formar uma definição sobre a tal perfeição que sempre falo, mas que, dessa vez, merece um destaque diferente.  Acabei descobrindo, fazendo uma varredura nas minhas gavetas e nas tantas outras coisas que guardo e ficam espalhadas dentro de mim (não peguei essa frase de nenhuma música da Ana Carolina, eu juro), que ninguém é certinho. Ser amado não é nenhum sinal de perfeição, coleguinhas. Se fosse... Ninguém seria amado. E vem cá, o legal de amar é saber que os seus defeitos são amados, que eles fazem com que o amor “dê liga”. Então, se seus avós te amam loucamente, amam também o fato de você, às vezes, tirar notas bem menores que 9. E que seu pai, que pode ser seu heroi, sua vida, ou seja, tudo que há de melhor em um homem, pode ter sérios conflitos com você. E que as suas amigas, por mais lindas e maravilhosas e melosas e tudo mais, podem ser chatas, encrenqueiras e totalmente diferentes. E que tem gente que prefere perder a virgindade com seu namoradinho a esperar um marido bobão e que não seja o cara ideal para, você sabe. E que o mundo em que você vive não se resume a uma cidade pequena, a um mundo onde o que move a queda radical das suas lágrimas é a chegada do seu ídolo ao país onde você vive. Ah, e afirmo que ser totalmente corajoso é um ato de honra máxima, pois declarar sentimentos ou pensamentos de forma nua e crua pode não ter o mesmo valor que sofrer desesperadamente para que tais revelações sejam feitas. E sim, você não deixa de ser humana se a sua maior vontade é não ter um despertador que controle a maldita hora de acordar. E gostar de todo mundo? Ah, tá...
Ninguém anda na linha, porque a linha não existe. Voar pode ser melhor que andar, já pensou nisso? Certinhos, erradinhos... Ora, podemos até ser planejados, mas cadê a certeza da previsão? Ninguém tem uma pedra ametista no turbante para dizer que seremos de um jeito ou de outro. Se tiver, me avise, pois quero me ver daqui a vinte anos, com trocentas histórias (inventadas) para contar. Não há comparação que nos defina, não há nada capaz de dizer se somos mais ou menos dignos de atenção. Se o “sistema” funcionasse assim, uau, estaríamos tão lascados que um suicídio coletivo seria a opção mais plausível.
Por isso, cara colega de trabalho, tenho umas coisinhas a dizer: pareço legal, mas falo besteiras, não posso tomar café quando a noite chega, não sou fã de festas, meu verdadeiro eu é anti-social, tenho problemas com certas pessoas, tenho sentimentos não superados, unhas roídas por uma ansiedade exacerbada, medo de morrer e... E ando numa tal de corda-bamba, onde fico entre o samba e o rock, onde gosto de azul e rosa choque, onde falo sobre vida e sobre morte, onde faço rima fraca e rima forte, e me perco no sul e no norte. E no fim das contas, ganho a certeza de que exatidão não é o lema de ninguém nessa vida.
(O poeminha foi sem querer querendo, ok?)

Um comentário:

  1. Naná, pra mim, o que reaalmente importa são as linhas que você traçará para a sua vida. Algumas delas certamente você vai querer apagar, outras, vai se orgulhar de tê-las traçado. Não importa. Viver é assim, mas desejo que suas linhas sejam sempre inesquecíveis porque foram feitas só por você.Te amo.

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