terça-feira, 6 de setembro de 2011
Entrevista: JM Wristbands
Há dez anos, nos Estados Unidos, Kristy ouvia falar de um cantor de queixo furado e muito talento ao tocar guitarra – sim, esse que vive sendo citado nesse blog: John Mayer. Assim que viu o homem aparecer na TV, correu para anotar seu nome e baixar suas músicas no dia seguinte. Até hoje, fica impressionada quando ouve uma canção do seu (quer dizer, do nosso) cantor favorito. Nessa mesma época, Brenda já ouvia o CD "Room for Squares" , e não o tirava do modo repeat do rádio. Com a mente marcada, decidiu tatuar no braço esquerdo o nome de uma canção de 2006, "In Repair" (em português, “Conserto”, ou “Em reparo”) – Brenda diz que a canção teve extrema importância em sua vida. Sue é apaixonada pelo trabalho do John desde os seus 14 anos, mas esperou oito anos para ir ao seu primeiro show. Drew é outro – quando ouviu "Why Georgia", virou fã. “Mayer tem uma música para cada situação que você vive”, diz.
O que essas quatro pessoas fazem neste glorioso blog? Bom, será que alguma alma por aí leu o post Decapitados? Se não, leia agora – clique sem cerimônias. Kristy, Brenda, Sue e Drew são jovens americanos com aproximadamente vinte e seis anos que são conectados por uma paixão: a canção do nosso querido John – pode não ser querido para o caro leitor, mas para a blogueira... Bom, eles são fãs mesmo, e bem mais que de carteirinha: são fãs de coração. Assim como você que está lendo este post pode ser louco por Britney Spears ou por qualquer outro artista, assim como você que ama alguém ou que apenas admira o que certa pessoa faz.
Mas é aquela coisa... O tal do fanatismo. A obsessão do nosso primeiro papo, lembram? Então. Esses quatro amigos que só se conheceram porque gostavam do John são fãs de verdade, eu já disse. Só que ao invés de parar o mundo por causa de uma obsessão, resolveram fazer outra coisa: valorizar a admiração que alimentam pelo Mayer. Movidos pela música e pela vontade de fazer o bem, conheceram uma ideia apoiada pelo próprio John: ajudar militares americanos que passam por problemas mentais ou físicos. E então foram mais longe: conheceram a NCIRE, uma instituição americana que faz pesquisas medicinais para auxiliar na saúde desses militares, ou seja, tratamentos para doenças como estresse e outros traumas psicológicos, além de amputações sofridas pelas vítimas. Ou seja: uma conexão criou outra, que criou outra... Ora, ora... Criou-se então o grupo “JM Wristbands”, que decidiu agarrar essa causa. O grupo cria pulseiras com trechos de músicas do John (como a frase “A simple little kind of free”, algo como “Um tipo simples de liberdade”, da canção “Perfect Lonely”) para que fossem vendidas a três dólares, sendo que todo o dinheiro arrecadado é doado para instituições como a NCIRE. O projeto fez tanto sucesso que, vira e mexe, o saudoso Mayer aparece com uma das pulseirinhas. E olha, são lindas.
Que tal conhecer melhor esse pessoal tão interessante? Ressuscitemos então o nosso querido (e sumido) marcador “Decifrando por aí”, e vamos decifrar diretamente dos EUA – quero dizer, com uma troca de e-mails entre a blogueira brasileira e o grupo americano. Conheçamos agora uma forma saudável de admirar alguém e fazer o bem a partir disso.
Brenda, Sue, Drew e Kristy.
1) Muitas pessoas pensam que amar um ídolo é mais importante do que qualquer coisa, e vocês podem provar que, no caso, o amor é ao trabalho e aos ideais de um cara como Mayer. Isso explica a diferença entre idolatria e admiração?
Há uma fina linha entre "idolatria" e a "admiração", e achamos que ainda partem diversos tributos dessa linha. Em nossa opinião, a idolatria seria uma quase insalubre forma de admiração, onde você coloca todos os seus esforços sempre em algo ou alguém, e tem pouco ou nenhum tempo para outra coisa - uma forma leve de obsessão. Cada um de nós tem trabalho, família, amigos e outros interesses. O segredo é ser capaz de encontrar um equilíbrio entre tudo que é importante pra nós, e não deixar toda a nossa vida em apenas uma coisa.
2) Como é o trabalho com veteranos americanos "esquecidos" pelo governo?
Ser esquecido pelo governo é diferente dos outros ferimentos sofridos na guerra. É fácil perceber a falta de um braço ou de uma perna, mas você não consegue olhar para alguém e compreender que essa pessoa sofre mais no interior. Não achamos que as feridas mentais tenham sido esquecidas, mas só agora estão sendo consideradas tão prejudiciais quanto às feridas visíveis claramente, feridas físicas. O tratamento está disponível para os que querem recebê-lo, mas ainda há um grande estigma em torno do TEPT (transtorno de estresse pós-traumático), especialmente entre os soldados. Muitos acham que esse problema é uma fraqueza, ou algo apenas para "ganhar mais dinheiro" - o que torna o tratamento desconfortável ou humilhante para algumas pessoas que sofrem com isso para pedir ajuda. A NCIRE (intistuição voltada à pesquisas sobre a saúde dos militares americanos) tem feito avanços enormes com a sua investigação na procura de um biomarcador - alguma característica física do TEPT, que pode provar a todos que este é um distúrbio físico real. Vai ser um grande passo para a sua aceitação entre os soldados, assim como no governo - um biomarcador significaria que ele não pode ser considerado "apenas algo para superar.". Até lá, pretendemos continuar a aumentar o dinheiro e a consciência para NCIRE e a batalha contra TEPT em geral.
3) Confesse: ter o reconhecimento de John era um desejo "pessoal" ou a sua obra só serviu de inspiração, nada além de admiração?
Precisamos esclarecer que nunca fizemos esse trabalho para sermos reconhecidas pelo John Mayer. Fazemos isto porque somos apaixonadas por aquilo que a NCIRE faz e vamos continuar com o projeto mesmo que não sejamos reconhecidas. Quando a NCIRE nos reconheceu numa conferência anual tivemos uma sensação maravilhosa, e é impossível não se sentir bem ao ver que seu trabalho é valorizado. Mas que fique claro: não fazemos nada disso para que os outros vejam.
4) Em algum momento vocês olharam este projeto e pensaram que era muito louco?
O TEMPO TODO! As tarefas que acompanham a JMWB – responder e-mails, cuidar do site, da página do Facebook, no Twitter, no Tumblr – podem ser um pouco esmagadoras. Não podemos dizer que não amamos o sucesso do projeto, mas ainda não entendemos a força que um post no nosso site pode ter. Tivemos que fazer tudo por nós mesmos! Este é um grande movimento “popular”, e não temos funcionários para etiquetar e enviar os produtos. Claro que tem sempre alguém que me ajuda (elas dizem que pagam os irmãos com milkshakes), mas vale a pena. É como se fosse uma pequena força de trabalho operacional em larga escala. Não trocamos nada disso por nada, é um prazer enorme fazer o que fazemos.
5) Quando outras pessoas veem a ideia de vocês (de ajudar veteranos de guerra) e a chamam de "louca" ou acham impossível colocá-la em prática, ou seja, quando outras pessoas desdenham da iniciativa de vocês, vocês se deixam abater? E o que dizem?
Nunca pensamos exatamente em parar. Como dissemos, tem horas que o trabalho fica esmagador, mas nunca pensamos em desistir por causa disso. Quando a empresa Mick Management (escritório que empresaria artistas, inclusive o John Mayer) deixou que trabalhássemos num show do John, fomos com tudo. Em uma conferência, a NCIRE agradeceu pelo nosso trabalho. Como dissemos, não estamos nesse projeto atrás de reconhecimento, mas isso nos motiva bastante.
6) É claro que em algum momento sentiu medo de dar errado. Pensaram em desistir? O que movia vocês para que não jogassem a ideia fora?
Nunca pensamos em desistir, e o que começou pequeno está crescendo cada vez mais, e estamos muito felizes com isso. Esperamos apenas que crescamos mais ainda no futuro para que possamos mostrar as pessoas o trabalho da NCIRE e de outras instituições de caridade militar que o John apoie ou passe a apoiar.
7) Para finalizar, vocês descodificaram uma idéia fanática que todos têm para com algo ou alguém que se admira, e mostraram que é possível ser fã de forma consciente, saudável e, acima de tudo, benéfica. Além da iniciativa e do bem que isso promove,o que descodifica vocês? Vale ressaltar a música de John!
Nossas famílias e amigos nos inspiram constantemente. Não sabemos o que fazemos para sermos tão abençoadas com pessoas tão especiais em nossas vidas, e nos admiramos com tantos atos de amor, de bondade, força e perseverança. As crianças nos inspiram, os nosso filhos... (Kristy diz se esforça para ser como sua bisavó e seu avô, que morreram há cinco anos e que eram pessoas boas e inspiradoras).
E para quem gostou da nossa primeira entrevista internacional... Continue acompanhando. Ah, quer comprar uma pulseira? Uai, entre no site www.jmwristbands.com e confira. Lá você encontra os contatos com o grupo no Tumblr, Twitter e Facebook.
E pra quem quer ver a versão em inglês da entrevista, em breve estará disponível no meu Tumblr (www.nathaliegoncalves.tumblr.com). Sigam o Twitter @nathalie_gm para saber se já foi publicado.
Ah, um abraço especial para Erika Carlson, uma brasileira que ajudou na realização dessa entrevista. Obrigada, Erika!
#Descodifiquem-se!
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