“O Senhor é meu Pastor e nada me faltará”.
Se eu decorasse números de versículos poderia ter colocado aqui, mas é que não decoro. Ok, o Google tá aí pra me ajudar nessas situações, mas achei melhor deixar assim, com esse ar de esquecimento – aposto que essa palavra pegou pesado, certo? Não, não é bem assim.
Creio que quem lê este post já leu esta frase da bíblia em algum adesivo, algum cartão de amizade, algum culto ou missa (ou algum outro ritual religioso, prometo estudar todas as religiões que puder depois do vestibular), ou até mesmo lendo a bíblia, ora. Particularmente falando, essa frase tem um significado forte – lembro-me da minha bisavó que sempre me dizia isso. Mas como já deixei bem claro que usar este blog como portal de confissões escancaradas é no mínimo deselegante, vou partir para o assunto tirando as delongas da história – vovovó, pode deixar, no dia que eu estiver mais habituada em expor minhas intimidades para o mundo, eu faço um post dedicado à senhora.
Quem sabe o que é andar num centro movimentado de uma cidade grande vai entender o que eu disser agora. Passar por uma praça, por exemplo, e ouvir palavras quase que autoritárias de alguém dizendo que você deve entrar para tal igreja; programas de TV onde a cura e tudo que é tido como sagrado desde que nascemos torna-se grito carregado no cuspe e na vermelhidão do rosto de quem o solta – e esta pessoa que o solta, cá entre nós, não é lá muito, como vou dizer, agradável. Bom, sei que serei injustamente espancada mentalmente por alguém que me lê e que calibrou seu lado “religioso” ao ler o título deste post, e temo que o MP chame minha atenção desnecessariamente. Por isso, vou usar o recurso da confissão. Última vez, hein.
Desde pequena, convivo com a religião. Não por vontade própria, em nenhum momento puxei a saia da minha mãe pedindo desesperadamente para ela me levar numa igreja, por dois motivos: primeiro porque nunca me preocupei necessariamente falando em ir à igreja, minha mãe sempre rezou comigo antes de dormir e sempre mantive minha fé com jeito de criança, e quando eu ia, era porque alguém da família me chamava, e não era incômodo nenhum participar de um culto (a maioria dos meus parentes é evangélica) ou de uma missa; em segundo lugar porque minha mãe nunca usou saia, sempre achou mais confortável usar uma boa bermuda de lycra – mas isso é história para algo como Tudo sobre minha mãe, o tipo de projeto que ainda merece ser pensado com calma. Sempre gostei desse contato, e toda a agitação que ficou prometida para minha juventude ficou concentrada apenas na minha infância, porque essa era a época em que eu falava tudo sem medo – hoje em dia... é outra história. E sempre aceitei, participei, acreditei... Numa boa, de coração, sem medo de ser feliz. Só tinha uma coisa que me incomodava: o exagero. Num culto, numa missa, num ritual ou em qualquer outra expressão de religião. Quando um pastor grita, fica vermelho, faz dança, quase que invoca um mal só pra invocar o bem depois... E esses escândalos envolvendo igrejas evangélicas? Ah sim, dízimos altíssimos, quase doação de órgãos... – não são todas, isso pode-se garantir, mas que tem uma boa quantidade que apela, ah, isso é incontestável. E antes que me chamem de branquela-católica-metida a besta, digo que isso é preconceito e termino de falar: as igrejas católicas também não são perfeitas. Pedofilia, burocracias... Deus é perfeito, a religião é que não colabora, não é isso que as cabeças mais maduras dizem? Então, na condição de “madura” e crente na força divina, assumo que não tenho religião definida – mas às vezes acho que penso mais em seguir um caminho certo do que um religioso cego e sem estribeira nenhuma, coitado.
Tem gente que curte uma missa ou um grupo jovem de uma igreja, mas que não entende exatamente tudo o que a bíblia diz e não aceita alguns pastores que não estudaram o livro sagrado, mas dizem que sabem tudo. Tem gente que entende o que a bíblia diz, mas não vê sentido numa canonização ou beatificação, assim como não entende o poder de um santo. Tem gente que acredita em Adão e Eva, mas não aceita a ideia de que não vai descansar depois que vestir o paletó de madeira, porque vai ter que prestar contas da missão que cumpriu na Terra. Assim como tem gente que morre de medo dos rituais da umbanda ou candomblé, porque não entende ou porque tem medo até de tentar entender. Tem uns doidos por mensagens subliminares, esses que vivem querendo boicotar alguma crença ou algum clip da GaGa só pra postar em algum fórum do Orkut que “se você colocar o CD da Xuxa de cabeça pra baixo vai ouvir o que não quer, meu chapa” – ah, sim, vai ouvir da sua mãe que você arranhou um CD original, e arranhar CD original em dias onde a pirataria reina é caso de “bata para educar seu filho”. Tem gente que vê a novela da tarde e crê na velha e boa tática das chibatadas, e curte desejar que alguém morra na mármore do inferno, só pra alegrar um pouquinho a vida. Tem gente que gosta de ler a bíblia, mas não se lembra do versículo e não curte música gospel, mas nem por isso deixa de acreditar em Deus e fazer suas rezas diárias – digamos que a blogueira em questão enquadre-se neste quesito.
A questão é: perfeição não existe, mas sabe o que é pior que isso? É acreditar piamente que existe. Por Deus, eu não sei cantar nenhuma canção que louve ao Senhor ou coisa parecida, mas Ele sabe que quando eu ouço uma música que gosto, agradeço por poder ouvi-la, e isso não é hipocrisia. O que não vale é ficar tapado, é achar que religião é camisa que se veste ou marca que se compra, achar que é um ídolo por quem você chora ou coisa parecida. Meu amigo, se religião fosse vestida, de qualquer jeito você a tiraria, porque ia se sujar ou ia cansar dela. Ah, e essa coisinha de cometer um monte de erros e depois declarar mudanças tão instantâneas quanto um miojo que sai da panela ainda cru... Olha, milagres podem até existir, mas o nome disso nem milagre é. É ser sacana mesmo. Troque sua arma por uma bíblia... Frase boa, de efeito. Mas não é de um dia pro outro – a não ser que baixe um santo trabalhado na inteligência e no amor ao próximo em você, mas geralmente quem troca arma por bíblia morre de medo de espírito. Morre mesmo.
É isso. Desamarrar-se faz bem, ora. Não há coisa melhor do que ser solto, sem linhas alheias para dizer o que é certo ou errado. É por isso que nessas horas, é bom ter um “liquidificador” por perto. Jogue suas ideias dentro dele, seus pensamentos e medos, e todos os caroços serão tratados como detritos, e é só você jogar fora. O que faz bem, aproveite. É assim que tem que ser numa religião, numa história... A vida é assim.
(Dy Hull Drawing)
#Descodifique-se!
Nenhum comentário:
Postar um comentário