Enquanto não terminamos o papo sobre equilíbrio e conceito geral de sustentabilidade, posto no B-Desc algo que ainda desperta um monte de interrogaçãozinhas na minha cabeça já não muito equilibrada: liberdade. Eu sei, já tentei falar sobre isso neste blog em algum momento, mas não pude abrir mão da reabertura desse tema quando deparei-me com esta notícia no g1.com:
Por "liberdade", bonecos suecos não têm sexo
É difícil tratar de um assunto tão complicado como liberdade. Porque todos temos nossos próprios conceitos – apesar da padronização que os dominam desde que o mundo é mundo. Tem gente que pensa que ser livre é ser amado, desejado e independente. Outros pensam que liberdade é poder voltar pra casa a partir da meia-noite, enquanto os pais cismam com a chegada do ponteiro no onze – mas isso não é trabalho pra quem vive mudando de pensamento como eu.
O que mais me “mordeu” nessa manchete foi o uso da palavra “liberdade”, isso já ficou bem claro. Mas não foi o tipo de pensamento que me atordoou… Talvez até tenha sido, mas de uma forma mais explicada. O que realmente chamou e chama minha atenção é o fato de que, de uma forma ou outra, estamos sendo obrigados a “marchar” (e o uso desse verbo foi bem proposital) nossas atitudes e mudar por causa dos outros. Sim, os “de mente aberta” aparentam uma gana meio assustadora quando se empolgam para expor suas ideias – o que me faz pensar que quem tem a mente aberta demais deixa entrar poeira e escangalha o que há lá dentro. Analisando tudo isso, acabo fazendo meio que uma linha do tempo: há trinta anos, os que se preocupavam com o sentido real da liberdade eram chamados de loucos pra baixo; há vinte anos, os loucos tornaram-se pessoas respeitadas a ponto de imaginarem novas teorias e filosofias, mas aí já era outro contexto, bem distante desse aqui; há dez anos, no auge do “popular”, dizíamos que detestávamos rótulos, sendo que hora ou outra classificávamos alguém como “assim ou assado”; há cinco anos resolvemos nos entregar de vez à moda das diferenças, mas com certo medo, como o governo ocupando uma favela e expulsando os bandidos naquele clima de guerra; e hoje, já tão “vividos” (até parece…) e embalados pelo hino de “libertação” do Ricky Martin, passamos a achar que tudo e todos devem ser mudados para que o mundo mude e… É, como se mudanças de opiniões ou abolição de estereótipos fosse, por exemplo, salvar a África da fome.
Ver o mundo com olhos abertos é obrigação, meus caros. Mas há quem diga que os nossos olhos estão fechados demais – calma, não é nenhuma teoria da conspiração ou Ceita religiosa, só tô exemplificando, não façam nada contra mim, por favor. A gente nasce com macacãozinho rosa ou azul, com quarto de borboletinhas ou aviõezinhos, com batons rosa ou barulhos que imitam a velocidade disparada dos carros, com amigas para falar de homens ou amigos para falar de futebol… Tudo bem, é tudo muito regulamentadinho, mas se esse era o problema, já passou. Tá todo mundo solto, todo mundo pode ser solto, pode pensar e agir como quiser: se a menina que nasceu com o destino de herdar as Barbies da mãe acordar num belo dia dizendo que vê a Barbie com outros olhos, uau, ela é só mais uma, é feliz com sua vida e o que interessa mesmo é se ela não faz mal a ninguém. Mas é aqui que está o problema: nunca nos livraremos dos estereótipos. Na sexualidade, na religião, na raça… E muito menos na anatomia! Do jeito que anda a coisa, não vai demorar muito para condenarem (e digo: todos!) suas próprias características genéticas, suas fitinhas de DNA… E de quem será a culpa pela “imposição de rótulos”?
A sensação que dá é que toda a liberdade que sonhamos, individual e proporcionadora de felicidade, virou tronco de escravidão. Como se nós mesmos, tão maravilhados com o mundo das aceitações, trocássemos as bolas e disséssemos que a liberdade tem apenas uma face… Êpa, isso me cheira à tirania, coisas do tipo. A liberdade deve estar intacta na cabeça e na listinha de desejos de cada um, para que esse “cada um” faça o favor de buscar seu objetivo. Cada um nasce de um jeito único, com um caráter único e uma cabeça que muda de acordo com o mundo. Podemos ser o que quiser, e depois disso o máximo que podemos fazer é nos aceitarmos e aceitar quem nos cerca. Mas existem certos limites que, por mais que possamos mudar de modo artificial e em pleno frio de laboratório, vai ser um limite que vai nos determinar. E se vivermos sem esses tais limites, ora, não teremos a menor chance de deixarmos nosso caráter fluir. Por mais que sejamos frutos de nós mesmos e de nossas próprias escolhas, ainda temos um mundo inteiro para nos dar as coordenadas – e se não concordarmos, é só modificarmos a rota, e isso deixará a expedição mais interessante e encantadora… Mas cabe ao caráter e a cabeça de cada um.
Ah, e sobre esse enxame de marchas sem sentido visível a olho nu, deixo apenas uma sugestão: leia um livro, procure mais, encontre-se. Encontrou-se? Agora trata de seguir seu caminho e deixar que os outros façam o mesmo, e guarde suas placas de manifestos para motivos realmente cabeludos, como a extinção da onça pintada ou a árvore centenária da sua rua que as autoridades querem podar. De resto, manifeste sua própria identidade para si mesmo, e já está de bom tamanho… E se quer ser respeitado, é só pedir. Mas não cause tumulto por algo que, graças ao mundo de hoje, pode ser resolvido com vários outros recursos. E para estes sempre ficará meu digníssimo respeito.
#Descodifique-se!
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