Vida real – sem carnaval, fantasia ou coisa do tipo. Tempo marcado, agendas lotadas – ou vazias, de vez em quando – palavras exatas, política da “boa vizinhança”… Escrever sobre a realidade é bem difícil. Não é como nos tempos Machadinos, em que a cidade passava por uma revolução poética-sócio-cultural, onde todos se moviam concentrados em sentimentos distintos e encantadores – não desmerecendo os sentimentos humanos de hoje em dia. Hoje é tudo mais colorido, será?, ou só as cores dos muros pichados são fortes e alegres? Mil oitocentos e alguns números e tudo bem, a vida era meio oculta e reservada, mas havia poesia, havia tempo, havia até mais pureza. Os hábitos poderiam até não serem muito legais – palavras de alguém de outra geração – mas não podemos negar a forma como a opinião era exposta em tal época, como a vida era mais dependente de opiniões e pensamentos – mesmo com padrões tão duros para nós, habitantes dos anos dois mil. A questão não era qualidade de vida – até era, mas não é a questão deste texto – era a qualidade da opinião, do sentimento e da forma como ele era exposto. Definitivamente, a palavra “exposição” perdeu toda o seu real sentido nesses dias que vivemos. O mundo – como já disse, mesmo parecendo ser tão colorido, esconde um cinza estranho e desconexo por trás de suas janelas. É tudo automático, ligado na tomada até dar curto-circuito… Quem disse que dá curto-circuito? A liberdade é citada de outra forma, vista apenas como “ir e vir”. Não é só isso, sabemos disso… Nem todos sabem. Está aí um pecado deste mondo muderno. Nem falarei dos recursos que nos movem: sim, todas essas geringonças da informática e seus parentes demoliram barreiras antigas e teceram algumas outras desnecessárias (ok, não mais falarei sobre o que as revistas e os psicólogos insistem em dizer). Enquanto se pensava em viver de forma igual e satisfatória para todos os lados, sentidos e direções, hoje se pensa em coisas, digamos, “bizarras”. A miséria ainda existe e tende a aumentar, mas pelo menos descobrimos que não existem marcianos em Marte – saímos no lucro ou não?
Posso estar errada em fazer esse tipo de comparação, mas depois me acerto com a Nossa Senhora das Palavras Desenfreadas. A ideia das “cores” de cada época me tentou: e pensar que nossas mentes estão beges como os vestidos das senhoras dos anos vinte… Poucos são os ousados que inovam a vida com pensamentos apaixonantes e realmente fundamentais – digo “poucos” em relação à quantidade de pessoas que esse mundão carrega nas costas sem dar um pio. Quem se atreve a dizer o que ainda não foi dito? Quem já pensou em descodificar o mundo? Quem quer pintar bem mais que a cara e faixas para políticos que nada fazem além de humilhar nossa nação? Quem aí já pensou em mudar um pouquinho que seja a forma como vê o mundo?
Ah, se Machado fosse vivo… Quem ele seria? A importante faceta de escritor fabuloso que conhecemos… Ou um mendigo que diz frases sábias como “gentileza gera gentileza”? Ai, chega de perguntas. Elas cansam, elas entopem o cérebro delas mesmas… E no fim, lá no fundo falso ou verdadeiro, elas nos salvam e sim, “giram nossa manivela”. Abrir a mente virou opção, alternativa, quem quiser que abra. Não devemos culpar ninguém por não abrirmos as nossas, ora… Democracia, minha gente! A última revolução de cores que eu me lembro no momento.
Estamos aí… Estagnados. Uns se movem, outros não saem da zona de conforto. Vai da cabeça de cada um. Quem diria… Excesso de liberdade atrapalha em certos pontos – da liberdade que nós criamos. A verdadeira liberdade ainda está intacta, esperando alguém ergue-la como uma tocha. Só nos resta “curtir” o que ainda nos resta, porque é assim que vivemos: pensando no que será a sobra de amanhã.
Nathalie Gonçalves.
Nenhum comentário:
Postar um comentário