sábado, 26 de fevereiro de 2011

Mente codificada

Estou surda. Não há som na sala, não há som nos fones que já nem estão nos meus ouvidos. Há apenas a intolerância, a impaciência, a vontade de agredir com os olhos e com a feição indignada. Quero gritar. Deve haver voz, pois quando me chamam consigo responder com risos leves e palavras bobas. Mas quero mostrar a força dos pulmões. Quero mesmo é inspiração, deixar as palavras correrem sobre mim como se eu fosse um rio ou uma estrada que faz ligação entre estados ou entre países. Queria mesmo era ter palavras novas, vocabulário novo, memorizar o que leio e ter o que escrever. Como detesto repetir palavras! Elas devem ser renovadas a cada frase, a cada ideia, a cada princípio de nova concepção. Estou sem sono, sei que será uma noite em claro – consequência de uma tarde em preto ou em colorido imaginário. Não peço nada além de calmaria e mudez. Uma mente muda me cai bem nesse momento.

Cansei de ser pisada. Não me visto de barata, não me visto de formiga, sou apenas uma pessoa que ri de qualquer coisa e nem sabe que está rindo. Se choro, pode acreditar que revejo meus motivos quase que obsessivamente.

Não sei exatamente para o quê ou para quem nasci. Não sei nem se acredito em missão ou obra escrita pelo acaso. Se esse tal de destino existe – se ele existir mesmo, o respeito verdadeiramente -, ele é como eu: morre de vontade de escrever, mas só faz isso quando a vontade coincide com o momento. Se ele existe, deve gostar de música; que seja guitarra alta, um misto de rock e blues, se quiser jazz, pode ser também. Se o destino realmente existe, ele ainda há de me escrever uma bela crônica para contar os casos e descasos dessa minha vida que ainda demora até pegar o avião certo – no momento, só anda de bonde, só anda de trem... Mas é o que a idade permite. Liberdade é palavra que está longe de me dar medo ou de ser desejada por mim. Imagino o que é ser livre. É ter consciência e saber lidar com sua relação com a vida e os fatos que a ela pertencem. É algo que nasce em todos nós, mas nós não nascemos com ela.

Detesto falar sobre mim – já estou falando, então essa será a linha do texto que oficialmente mostra o positivo e o negativo, ou seja, a atração entre afirmação e verdade. Se um dia eu entender o que aqui escrevo, é porque a noite foi solitária e algo parecido com inquietude me dominava.

Tenho poucas certezas na vida – um dia devo ter tido muitas, mas elas sempre mudam e o rótulo “certeza” cai por terra – mas uma delas faço questão de deixar bem clara: só hei de sossegar quando “eu” não for o assunto principal, a manchete do meu jornal, o texto que escrevo e acaba de forma tão banal com rimas tão ridículas. Quero falar sobre quem deve existir, mas não conheço – quero dizer, conheço sim. Quero inventar alguém. Quero dar vida a alguém sem precisar parir. Que seja algo instantâneo, como esses macarrões de três minutos ao fogo e com a criatividade de quem o prepara para incrementar com alho ou ovo. Só vou crescer quando a certeza de que estou me permitindo mostrar-se firme como uma rocha e quando eu não precisar fazer comparações. Quando eu me entender, talvez eu entenda o mundo.

Mas do que adianta entendê-lo mesmo?

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