Matar. Verbo doentio, perigoso, incontestável. Peso pra quem conjuga, nenhuma garantia. E quando digo “nenhuma garantia” sinto cheiro de imortalidade. Todos matam. Moscas, baratas, contas, chances, medos, sonhos, tristezas, histórias, pessoas. Pessoas essas que matamos dentro de nós mesmos. Todos matamos. Matamos por motivos que não são idiotas. Matamos por necessidade, por sofrimento, por esperança… Alguma esperança de que só assim tudo volte para o lugar. Matamos para viver, e no fim das contas ficamos na dúvida: será que matamos por necessidade ou por egoísmo? Uma pergunta que morre sem resposta. Mas não porque nós a matamos. E sim porque ela se cansa de nós.
São pequenos assassinatos que cometemos com a melhor das intenções. São os delitos obscuros que moram em nossas cabeças cheias de icógnitas. “Matar” parece ser o método mais prático, mas não quer dizer que seja o mais eficiente. Por acreditar que podemos melhorar as coisas que estão erradas, por querer acabar com quem acaba conosco. Tentativas fajutas, justificativas piores ainda… Medo. É o que nos move quando matamos para viver. Medo de se arrepender futuramente. Medo de esquecer quem estamos matando – ora, matamos para esquecer, então não queremos matar. Mas matamos mesmo assim.
E no fim das contas, quando achamos que já enterramos quem matamos… Eis que surgem os fantasmas. Não é o arrependimento. Não é fantasia. Não é culpa. É apenas imortalidade, no seu sentido cru e insano. É a nossa punição.
Amor. É o que ainda fica nos fim das contas. É o que modela a raiva, o desespero, a dor. E o que seria de nós sem esses sentimentos? Sabe-se apenas que o mal nunca se arranca pela raiz. Eis que o amor não tem raiz, é tão natural que não precisa de raiz. Amor não é árvore, não é folha caída, não é nada disso. Amor é motivo sem motivo, é sentir com tudo dentro, é chorar sem alento, é ter olhos abertos no vento, é viver sem se importar com o tempo. E matar o amor que há em nós é algo que não existe. Não se mata amor. Não se mata quem é o nosso amor. Simplesmente porque ele volta, e com toda a força. Simplesmente porque quanto dele volta tudo fica mais claro. Porque sem ele não dá pra viver. Porque nós morremos, mas ele não.
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