segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Só uma menina.

Era só mais uma menina que um dia acreditou nos filmes que assistiu. Era só uma menina que um dia sorriu por livre e espontânea vontade. Era só uma menina que ouvia atrás da porta, que queria acelerar o ritmo dos ponteiros, que queria atropelar a vida com o caminhão de brinquedo do seu irmão – ou com o conversível da sua Barbie. Era só uma menina que queria ser gente grande, que achava bonito ser gente grande... Ela só queria ser sua própria mãe. Só isso. E nada mais.


Mas ela cresceu. O esperado que nunca foi imaginado aconteceu. O encantamento caiu com as lágrimas que se soltaram dos olhos quando esses viram uma nova imagem no espelho. Aquela menina simplificada tornara-se uma fração de tempo, uma expressão sem simplificação. Tornava-se adulta aquela menina só, uma só menina. Ela se viu na sombra, se encontrou na chuva... E agora chora quando a perguntam se é feliz. A menina morreu. A mulher tomou seu corpo, fez suas tantas alterações nele e se viu em apuros ao lembrar da menina. A adulta agora chora, se vê iludida – ela não quer se ver. Ela não quer viver.

A vida matou a menina? Não. Ela ainda agonia na memória da mulher. Ela ainda chora e pede o colo da mãe. Ela ainda pergunta se já pode sair do castigo. Ela ainda tenta respirar – e luta com toda a força que uma pobre menina pode ter.

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