Mais uma noite olhando pra TV, com meu pote de sorvete napolitano, minha calça larga e minha meia de pinguim. A noite está fria - minha vó já ousou levantar da cadeira só para fechar a janela. Acaba a novela, a série, o clip, o filme... E a noite segue se transformando em madrugada. Minha mãe ri para o computador, provavelmente ela está ouvindo "this is my song for you...". Meus olhos estão caídos, e disfarço bem com meu tipo "está tudo bem". Mas não está tudo bem. A TV desponta com seu filme mais meloso, romântico e "tosco" que uma emissora pode me oferecer naquele momento. Coçando a mão para buscar um dos tantos episódios de House compactados em CD que são abrigados pelo meu armário, sinto-me presa à porcaria que aquele "tubo infecto" resolve ditar. E me vejo zonza ao ouvir uma frase que fez de mim a pior das S.A. - sonhadoras acordadas (gostaram da sigla? Também adorei.): " o amor não é feito de palavrinhas ridículas, e sim de grandes atitudes". As frases "românticas" sempre fizeram parte de mim - eu vendia cartas de amor na escola e ainda vendo. Mas aquela frase... Tinha algo a ver comigo. Eu pensava em qualquer coisa naquele fim de sábado agostino que me fizesse relaxar e esquecer do que me codifica todas as noites. E quando me deparei com aquela verdade dita por um garoto de 10 anos num simples filme de canal a cabo...Não pude delirar, ou então minha vó morreria de susto. Mas pude entender que a minha vida precisava mudar de qualquer jeito - e não digo mudar a marca do shampoo que uso, mas sim a minha forma de pensar, de agir. Não era o fato de pensar que já tenho 15 anos e preciso descodificar meus tantos e poucos problemas, mas... Minha mente sempre me disse que mudar é preciso. Lá se vão minhas contas de quantas vezes cortei o cabelo, quantos cantores ouvi até constatar que Vercillo era meu predileto, quantos ídolos vieram para que eu descobrisse que Hugh Grant seria sempre o legítimo... Gosto de comparar a velocidade do ritmo da minha vida com o preparo de um macarrão instantâneo. São três minutos para as ideias ferverem, um parente ligar e fazer fofoca do outro, uma música nova tocar no rádio... E a dependência de um tempero para dar gosto, dar vida. Só que o mais difícil é perceber que não dá pra seguir o velho conselho da sua amiga e do Dinho Ouro Pretro: "não olhe pra trás". Você nunca lembra de pegar um garfo na gaveta quando vai pegar o miojo no armário: você precisa voltar para buscá-lo. Reconheço que minhas comparações são as piores possíveis, mas é a mais pura verdade. Ah se minha vida fosse um rocambole: só tacar o recheio e sair rolando! Eu acho que seria a mais vulgar das criaturas. Prefiro dizer que a Mônica é a musa da minha vida - e quero muito acreditar que vocês entenderam o que eu disse.
Mas voltando à frase... Devo concordar com aquele menino - principalmente na minha situação. Sabe quando uma coisa (quando eu digo "coisa", envolvo pessoa, objeto, animal e lugar. Espero que alguém aqui já tenha jogado Perfil) lá do seu passado te codifica, te compacta, te põe numa cilada mesmo sem lembrar da sua existência? Pedir uma máquina do tempo emprestada não adianta muito. E mesmo que você não precise do passado para manter a distância, mesmo que seja o presente... Coragem podia ser vendida na farmácia, né? Não precisa. Tem uma hora que ela nasce em você de um jeito que nem você imagina, e quando percebe, já se tornou o mais corajoso entre tantos que não te seguem nesse mundo (ou no Twitter, sei lá). E se fosse preciso você lutar por algo que você tem certeza que não vai conseguir? Ah, como a certeza antecipada engana... Pois quando se trata de amor, esse sentimento tão cruel, sonso e pegajoso... Não duvide do que você é capaz.
Depois de inúmeras voltas na minha cabeça, levantei-me e escovei os dentes. Um silêncio me dominou, me mostrou que eu não merecia nem metade da vitória que eu tanto queria. Dizer que o sofrimento existe é a mesma coisa que dizer que você detesta a Lady GaGa: daqui a meia hora tá cantando "Bad Romance". Mas lutar com o sofrimento... A coragem vence se o que você sente for verdadeiro. E não foi Ana Maria Braga quem me disse isso: aprendi "na base da porrada". Demorei a entender que a vida é feita de escolhas, e escolhas são feitas de atitude. Um garotinho idiota teve que me dizer isso por meio de um filme mais idiota ainda, só pra me fazer ver que eu era bem mais estúpida que eles. Era. Pois o sono veio, a reza foi feita, botei minha máscara e fui dormir. Acordei graças ao dia dos pais, que me veio com felicidade dupla: pela minha família e pela minha mudança.
Moral da história? Sentir é bem mais necessário do que pensar. E ter coragem supera esses dois verbinhos. Pois quando se tem coragem, quando se corre o mundo, quando se luta e se sofre na dúvida, quando sua vida é dividida em partículas miscroscópicas... Os Titãs tinham razão quando disseram que a vida é mesmo agora. E hoje sei que tudo o que me descodificará nos próximos dias será a coragem que corre nas minhas veias - e por que não o amor que sinto? Sim, por mais que isso tenha ultrapassado o ponto da breguice e do clichê, amar é algo epidêmico, pandêmico, dominador, invasor, predador, fatal e fundamental. E lembre-se: amor só é amor quando vem num sanduíche: hambúrguer, amor e coragem.
#Descodifiquem-se!
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