Nesse fim de semana, li meu jornal predileto acompanhada de uma lata de Sonho de Valsa. Esbarrando nas poucas páginas “aproveitáveis” que encontrei, flagrei meus olhos fixados numa matéria que falava sobre a nova safra de filmes nacionais que serão estreados. Confesso ser fã assídua de longas produzidos no meu país – daqueles que têm uma história que me prenda, não as histórias loucas como um cara que é tarado por um ralo (com todo respeito ao querido Selton Mello que revejo toda semana no santo DVD de “os aspones”). Mas me vejo enfeitiçada pelos remakes, continuidades e afins que poderão salvar o incentivo à cultura que o governo tanto menciona – e pouco destaca. Fico louca ao ver atores de grande valia para a cultura brasileira, como Wagner Moura e José Wilker, em produções que dão gosto de ver com histórias interessantes, diálogos claros e trilhas sonoras que fazem bem aos ouvidos. E fico mais louca ainda quando devo esperar o tal filme chegar na locadora ou passar na TV porque o ingresso do cinema está pela hora da morte – e quando a vontade de ver o filme é muito grande, apela-se para a primeira feira com filmes piratas para matar a vontade que já está matando. E ainda ter que encarar a culpa do fato de ser “recriminada” por ser uma consumidora do tal submundo... Mas tudo bem, pelo menos assisto o filme antes de todo mundo, ou então não tenho que encarar os tantos milhares de telespectadores que a TV anuncia.
Sabe o que é revoltante? É saber que moro num país com mentes criativas e capazes de criar grandes filmes e peças teatrais, e que essas mentes acabam competindo com uma revoltante estatística da tal da pirataria. Isso tudo porque não podemos contar com um governo tão inteligente quanto os nossos cineastas (nem todos, grifo). O teatro e o cinema se tornaram tipos da arte disponíveis apenas para quem tem uma condição financeira favorável e uma cabeça muito louca, porque entender a história de um cara que repito, é viciado em ralos, é demais! E os tais brasileiros dignos com seus salários baixos, porém com direito de lazer cultural? Esses não possuem verba suficiente para pagar um ingresso e um maldito combo de pipoca com refrigerante, dinheiro que poderia ser aplicado nas compras de fim de mês. Ficam presos ao desgaste dos populares americanos, aqueles que já tiram o dinheiro só nas revistas, camisetas e afins que são vendidos na lojinha da esquina – ou no próprio camelô da esquina. Para assistir a uma peça teatral? Ah, só se forem as peças de “João e Maria” que apresentam na escola dos seus filhos. E ainda vem um ministro (ou mais, com essa penca que temos fica difícil distinguir um ou outro) dizer que o brasileiro precisa se interessar pelo seu cinema, seu teatro... Faça-me o favor!
E agora vem um tal de cinema 3D que ninguém explica, só uns poucos sites que ainda se preocupam em informar quem pouco quer ser informado. Você chega deslumbrado com um óculos para assistir a um filme (americano, claro) pra sair do cinema tonto, passando mal e feliz porque usou um óculos 3D. Feliz vírgula, pois você está com uma maldita dor de cabeça. Mas é claro que você não vai sair por aí dizendo que a tal da tecnologia 3D te deixou desse jeito, ou vão pensar o quê de você? Ou seja: divulga-se algo novo com o intuito aparente de "aumentar a diversão do telespectador" - mas que objetivo é esse, que usa e abusa de algo que não é devidamente explicado para o consumidor e que acaba saindo prejudicado de alguma forma, ainda que alimentando uma indústria que se diz correta - mas que esconde um tanto de poeira por baixo do tapete? Onde está a coerência, a indignação que só mostram quando um político é acusado de corrupção ou quando há algo de errado no seu bairro?
Já estamos careca de saber que em tempos de eleição tudo muda só para mostrar que “há solução” (a velha história do engana-trouxa). Façamos uma aposta: será que a cultura do nosso país será lembrada? Pelo menos nesse ano, será que teremos um incentivo verdadeiro da parte das autoridades (ou futuras autoridades) para constiruírmos um acesso direto à cultura? E o principal: será que novas safras do nosso cinema podem incentivar esse tal acesso? Fica a dúvida.
Hora de virar a página do jornal e rever o vigésimo- terceiro depoimento do menor no caso Bruno.
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