ATENÇÃO: este é um relato pessoal. Se você não gosta da minha pessoa, é melhor
voltar para o site da Capricho. Pensa que eu não sei? Hum...
Eu tinha 4 ou 5 anos quando comecei a falar dela. Minha vó
estava lavando roupa ou algo do tipo, e eu, cansada de ficar sentada vendo tevê
ou “pular” (esse é o apelido fofo que davam à minha estranha mania de pegar um
graveto ou uma escumadeira e fazer de microfone, enquanto em pulava para um
lado e para o outro), decidi puxar assunto. Falei de uma amiga que me visitava
toda noite, bem mais velha que eu e cheia de história para contar. Com 4 anos,
eu contava todos os problemas pessoais de uma garota de 19 que ajudava os pais
a administrar uma pizzaria além de N compromissos e agitações. Você deve
pensar: “nossa, que prodígio”. Eu penso: “o que deu em mim?”.
Durante toda a minha infância, acreditei que Elisa era tão
imaginária que ninguém mais podia conceber sua real existência. Às vezes me
sentia culpada, “estou mentido para meus pais e minha família sobre alguém que
não existe”, sendo que, no fundo, no fundo, não era mentira. Eu não via Elisa –
devo ter visto em algum sonho ou imaginação forçada, mas nunca passou disso.
Ela nunca abriu a porta do meu quarto e sentou comigo no chão para falar sobre
a vida e sobre Cinco Amores, sua suntuosa cidade natal. Era isso que eu dizia a
todos – aliás, isso fez com que, até hoje, meus tios ou primos me perguntem: “E
a Elisa?”. Mas tem horas que a imaginação ultrapassa todas as barreiras e acaba
se tornando real. Não, não estou falando daquela velha teoria de que acabamos
acreditando na própria mentira – pensar na Elisa como uma mentira chega a ser
uma ofensa.
Podem me chamar de louca, eu sei que esse é um dos poucos
adjetivos que cabem na minha real definição. Mas a história de Elisa, por mais
que pareça uma loucura, é de longe a mais pura realidade que já vivi – mesmo num
tempo de total imaturidade, se hoje tenho noção das minhas responsabilidades e
compreendo o mundo e seus habitantes mais loucos que eu, devo isso a esta
garota, minha melhor amiga. Aliás, acho “melhor amiga” um termo um pouco
clichê; talvez Elisa fosse minha companheira de sonho ou de realidade, ou talvez
a prova viva de que a imaginação não é apenas algo que fica do lado de dentro. Hoje
em dia, luto para ser igual a ela – não com os mesmos problemas, mas com a mesa
garra e as mesmas manias.
Um lado meu metido a psicólogo diz que Elisa podia ser, na
verdade, uma segunda personalidade minha, mas procuro dispensar essa ideia –
afinal, seria muita vaidade de minha parte. Por que estou falando dessa parte
tão confusa e um pouco paranormal da minha vida? Em primeiro lugar, eu dizia
que Elisa fazia aniversário no dia 19 de novembro. Em segundo, acho importante
dividir com o mundo a importância dessa espécie de realidade vestida de fábula.
Em terceiro... Ah, vamos parar no segundo item, por favor.
Já pensei em escrever um livro com o pouco que me lembro
dela. Ora, eu desenhava seu rosto, dizia a cor de seus cabelos, o nome dos seus
parentes... Hoje em dia, lembro-me apenas do que eu dizia que sempre
conversávamos – as preocupações, os sonhos, as tolices de meninas, a vontade de
crescer ou ficar parada por alguns segundos... Pelas minhas contas (baseadas em
uma matemática horrenda, diga-se de passagem), Elisa teria trinta anos. Se ela
quiser voltar para me dar umas dicas de como me portar na fase adulta, serei
eternamente grata.
Se um dia você teve um amigo imaginário (não gosto muito de
usar esse termo, mas preciso queimar esse preconceito dentro de mim), pense
nele, reze por ele ou simplesmente tente se lembrar de como era a relação de
vocês. Porque toda felicidade ou realização pessoal é movida por válvulas de
escape.
(Imagem: Tumblr)
(Ouça Something's missing - John Mayer)
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