Sou uma célula. Sou narcisista, ou seja, encantada pelo meu
exterior. Sou revestida pela finura da minha membrana, e assim vivo elástica e
descontínua. Regenero-me no primeiro romper, conduzo eletricidade, transporto
substâncias... Tão química! Tão ingênua! Tão humana.
Sou uma
célula. Quando animal, sou simples e única, com identidade própria, protegida
por lipídios e proteínas que se estendem sobre mim como uma manta em dia de inverno.
Mas só me esquentam... Não se metem. Quando animal, repito, retiro-me na
simplicidade da razão, faço-me quente. Mas é que às vezes preciso vegetar. Às
vezes, não é apenas de uma manta que preciso... Preciso de um recanto, de algo
que me proteja e que pense por mim, que aja por mim. Preciso de defesa intensa,
de rigidez, de uma parede que impeça meus movimentos e interfira nos meus
mecanismos, protegendo-me de mim mesma, dos meus surtos e explosões. Preciso
dessa parede para me sustentar, me definir, para que eu cresça, para que eu me
mantenha nutrida, desenvolvida. Uma parede forte... Composta por uma lâmina
fina, porém capaz de gerar uma, duas camadas – cristalizando-me com um concreto
capaz de abrigar meus anseios. E então, com pena de mim, a parede se esburaca,
cria pontes para que eu me descubra por aí e conheça outras células.
Sou uma
célula. Animal simples, vegetal complexo... Em qualquer versão, meu escudo me
ajuda a transportar meus anseios, a equilibrar minha razão e sensibilidade, a
romper minhas hemácias, a murchar e depois inchar – perder e ganhar, viver.
Tudo isso sem perder minhas forças. Mas se eu quiser me cansar, tudo bem –
faço-me bomba, nervosa, inquieta, tentando o que não se consegue, usufruindo da
ignorância de bater na mesma tecla. E se eu sofrer ao perceber que não consegui
equilibrar minhas concentrações, não me deixarei levar pela agonia – elimino as
impurezas da minha cabeça em grandes blocos, nem que pra isso eu tenha que me
transformar. E se eu me sentir só, encontro minha felicidade em bolsas
entupidas de surpresas... Ingiro, digiro e me fortaleço.
Sou uma
célula. Sou mais rápida quando a situação é difícil – trato de me virar e
resolver minhas insanidades. Sou dessas que acreditam que a necessidade faz o
sapo pular. Dura como uma rocha, mas só por fora. Não deixo ninguém se meter
comigo.
Sou uma
célula. Você pode até fingir que não existo, que não presto, que não vivo...
Mas estou em você. Sou pequena, mas te faço grande. E no fim das contas, somos
iguais.
P.S.: para não ficar louca , criei essa história misturando tudo o que aprendi sobre Membrana Plasmática. Vida de vestibulanda... Sabe como é, a gente se vira como pode.
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