terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Apenas janeiro

Os joelhos estão colados. Tem uma música estranha no ar, tem algo estranho na foto, tem gente desconhecida olhando seu corpo, tem gente mais que conhecida de olhos fechados deixando a música entrar. E você está lá, com as portas fechadas, se prendendo para se soltar com moderação.
Não, isso é mentira. Melhor refazermos essas palavras.
A música é estranha, mas seu corpo entra no ritmo. A bebida chama, alguém chama também, você não sabe, não ouve, não dá ouvidos, está ali sem nada nem ninguém. Só dança, se esquecendo de tudo, de todos... E a vida passa ali, naquela brisa, na fumaça de mentirinha, no transe entre o artificial e a realidade... Pra quê as palavras nessas horas onde apenas o movimento dos pés e dos quadris conta? Pra quê desespero, pra quê os risos forçados, as concepções prontas para uso, as falas prontas... Pra quê respirar quando se transpira ao extremo? Pra quê olhar para os lados e procurar rusgas, defeitos ou divergências de última hora? O que conta é estar ali, é viver aquela madrugada como se um pedaço da vida ali estivesse. Por mais que os pés queimem num fogo de cimento, que os ouvidos resmunguem por causa da altura da canção, que a cabeça queira uma música melhor, que os braços fiquem perdidos no ar... E os joelhos, colados.
Janeiro começa. A chuva molha as janelas dos carros e das casas... Mas traz seu calor oculto, que mantém os livros para os velhos e bons invernos nos armários. Não há tempo para pensamentos passados. Não há tempo para pensamentos novos. Só há espaço para uma dança ali, outra lá... Só há tempo para as transpirações exacerbadas, para as perdas de neurônio após a animação da madrugada enquanto o corpo é jogado na cama e os olhos só se preocupam em contar as pás do ventilador de teto.
Existe vida inteligente em janeiro?
Deixemos as perguntas difíceis para quando o ano resolver começar. martin millar(Ouça Blue Skies, Jamiroquai)
(martin millar)

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