Olha, seu Paulinho Moska, eu... Não faria nada. Se amanhã fosse meu último dia (2 de novembro), eu ia ficar bem irada: meu último dia de vida cai justamente no dia de quem já não tem dia. Entendeu?
Ok, serei mais fina, elegante, delicada... É. Mais respeito, Nathalie.
O dia de Finados sempre soou estranho pra mim. Como uma homenagem: eu, que estou vivíssima, devo chorar e sofrer durante todo um dia por alguém que sinto saudades todos os dias – saudade saudáveis, se é que existe saudade saudável. Por isso, prefiro pensar que é apenas um feriado, onde homenagearei, acordando após o meio-dia, as almas que já se foram. “Hehe.”
Mas aí... Se alguém puxar meu pé? Ou se a minha consciência me acordar no meio da noite dizendo que estou errada e devo ao menos rezar um terço pelos que não estão mais ao meu lado?
Epa, negrita essa frase aí: “não estão mais ao meu lado”. Ótimo. Toquei na ferida (tá bom, vamos poupar as expressões nojentas).
Pesquisando bem, descobri que o dia de Finados celebra a vida eterna, o amor que não morre. Epa de novo.
Dizem que quando a gente ama de verdade, a gente não esquece. Amor não morre nunca. Amor por amigo, por irmão, por aquele homem ou mulher que te completa, por pai e mãe, tio e tia, vó e vô... Etc, etc e etc. Amor de verdade não morre nunca. Nem que a tal pessoa amada morra ou simplesmente se afaste de você, viva uma vida nova onde a sua presença não seja frequente. E dizem que o amor é isso, é você não se esquecer nunca. Dos momentos legais, daqueles em que você chorou de raiva ou emoção, que você riu até lacrimejar... É esse o tal do amor verdadeiro, é lembrar-se de tudo... E consequentemente querer de novo.
Mas você já teve. Ou melhor, ainda tem. Não num túmulo cinza e frio de um cemitério horripilante. Ou numa carta de um amigo dizendo que está bem e também sente saudades. Tudo que se vive ou já foi vivido é armazenado – isso na minha cara concepção, claro. Até as coisas mais simples, como um primeiro beijo, uma primeira entrevista de emprego ou mesmo a primeira conta que você pagou, a primeira grande dívida que você fez. Nossas memórias internas são infinitas, já disse isso. Tudo bem que elas não são totalmente à prova de esquecimento... Ora, quem está ligando para esses pormenores? Enquanto pudermos lembrar, sonhar, chorar e dizer que sentimos falta, está ótimo. E estará melhor ainda quando entendermos que todo dia é dia de lembrar com carinho, de pensar que tudo que fica dentro de nós merece destaque, merece importância.
Eu penso que a morte não é lá a melhor coisa que acontece. É como a última vez que vemos os créditos de uma novela passarem voando pela TV numa velocidade incontrolável, num “adeus” escondido, contido, e que mesmo assim dá uma vontadezinha de chorar que ninguém esconde. A gente chora nos primeiros dias, outra novela começa, mas aquele protagonista... Ninguém consegue ser como as personagens daquela outra novela. Ninguém é capaz de entender a necessidade que temos uns dos outros. Mas essa novela, meu caro... Você viu. Você acompanhou de perto, e não se arrepende de cada minuto do dia que perdeu assistindo fielmente cada capítulo. Você sabe o que viu, e agradece a cada dia por ter visto tudo que viu.
É como você ir embora, ou ver que alguém foi embora. Mudou de cidade, vive de um outro jeito... Mas sonha que ainda vai se encontrar com aquela pessoa. Até o dia em que você chora e percebe que a vida continua. E num belo dia, desses corridos e de importância padrão, você encontra esse amigo ou amiga num lugar cheio de gente, uma loja, uma rua, uma rodoviária... Você sabe que é ela. E sua vontade é sair correndo, dizer que a quer por perto, que... Que você não consegue mais. E as suas pernas ficam trancadas, presas ao chão, duas pilastras com menos de meio metro. Pilastras segurando um corpo que quase cai.
A gente não tem como fugir da morte, das despedidas, das tristezas que cruzam com a gente todo santo dia. Mas precisamos disso, precisamos entender que perder faz parte. E que nunca perdemos de verdade. A vida continua. E não importa, seja seu parente morto ou seu amigo que não vê há anos... Seja quem for. Quando há amor, quando há ternura, nenhuma distância te marca. Porque a solidão só existe pra quem quer ficar sozinho. Deixemos que o sentimento recrie a causa da nossa saudade, e assim não estaremos sozinhos. Seremos ouvidos, por mais que não possamos ouvir... Ouviremos apenas as lembranças, e saberemos projetar as respostas para nossas perguntas.
A vida não acaba, não morre, não vai embora. Apenas... Perde-se. Até o belo dia em que a encontramos. Enquanto isso, o melhor que temos a fazer é viver. É brindar cada minuto, cada segundo que é eterno enquanto dura.
A vida é eterna. Mas não é pra sempre. É confusa. E existe pra ser vivida. Simplesmente.
Para meus queridos vô Nelson e vó Léia, vovovó, tias... E para todos aqueles que não mais convivem comigo, por motivos de distância ou escolha, mas que sempre serão lembrados com muito carinho.
P.S.: Entendeu agora por que não devemos sentir culpa ao curtir o feriado do dia 2?

(John Mayer)
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